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Mostrando postagens de 2019

Agropecuária brasileira precisa se adaptar às mudanças climáticas

O Brasil é líder global na produção agropecuária e pode ser tornar o maior exportador de alimentos do mundo nos próximos anos. Para isso, porém, o país precisa estar preparado para enfrentar os impactos das mudanças climáticas. A poucos dias do início da reunião anual da Convenção do Clima (COP-25) , em Madri – que seria no Brasil, mas foi esnobada pelo seu (des)governo , não esqueçamos -, esse alerta foi amplificado com o lançamento do working paper “ Papel do Plano ABC e do Planaveg na Adaptação da Agricultura e da Pecuária às Mudanças Climática s”, pelo WRI Brasil. O estudo traz pesquisas e análises que mostram quais são os impactos das mudanças climáticas na agricultura brasileira e como eles podem ser minimizados por meio da implantação das tecnologias do Plano Nacional de Agricultura de Baixo Carbono (Plano ABC) e da Política Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg) . Espera-se uma redução de 17% na produtividade agrícola global até 2050, causadas por essas

O legado do ISA

Há pouco mais de 22 iniciei meu relacionamento com o Instituto Socioambiental, o ISA, quando passei a fazer parte da equipe daquela ONG, na época – como agora – muito inovadora. Fundada menos de três anos antes por um grupo de antropólogos, indigenistas, advogados e ativistas, trazia como novidade um olhar para as florestas, a biodiversidade e o meio ambiente como um todo vinculado à defesa dos direitos dos povos indígenas e das comunidades tradicionais. O lema do ISA nos primeiros anos era justamente socioambiental se escreve junto , produzindo uma nova palavra e um novo conceito de atuação. Muito sinceramente, achava que não sairia de lá nunca mais, tamanha minha identificação com a causa. Mesmo que isso não tenha acontecido, nunca perdi totalmente o vínculo, seja acompanhando o trabalho deles como jornalista e cidadã, seja como colaboradora em vários trabalhos, entre eles alguns que estão no rol dos que mais me orgulhei de fazer parte, como as duas edições do Almanaque Bras

Um bem de todos nós

Tive nesta semana uma grata surpresa ao receber o livro infantil Água , do ilustrador indiano Subhash Vyam, publicado pela FTD. Além das ilustrações muitos bonitas e da história comovente, que se passa na Índia, mas poderia tranquilamente ser de milhares de brasileiros, tenho uma pequena participação na publicação, pois fui convidada para fazer um posfácio contextualizando para os pequenos leitores daqui a questão da água no mundo e no nosso país. A obra parte da narrativa oral em híndi do artista, recontada em inglês por Gita Wolf e traduzida por Claudio Alves Marcondes para o português. A narrativa, baseada na vida do autor, conta sobre sua infância em uma aldeia pobre onde a escassez de água determinava a dinâmica da comunidade. Depois, foi para a cidade para estudar e trabalhar e se surpreendeu que, também lá, apesar de toda estrutura e do desperdício com seu uso, muitas vezes a água também faltava na torneira. Sem perder o vínculo com a aldeia natal, descobriu em uma de

Mineração, consumo e estupro

Fazer sinapses é uma atividade difícil, às vezes, parece que tentamos forçar a barra ou, mais comum, sermos muito radicais. Ontem, no meio desta semana triste, quando a Amazônia arde por obra de ruralistas, madeireiros e mineradores – e, com certeza, não por iniciativa de ONGs, como quer convencer a galera o presidente do Brasil -, ouvi o médico congolês Denis Mukwege, Prêmio Nobel da Paz de 2018, no ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento. Denis Mukwege, no Fronteiras do Pensamento Mukwege ficou conhecido por sua atuação em prol das mulheres que são estupradas como estratégia de guerra nos conflitos que já deixaram mais de 6 milhões de mortos na República Democrática do Congo (RPC). Segundo o médico, os estupros coletivos, cometidos de maneiras diversas conforme o grupo, são uma forma barata de humilhar e destruir comunidades, forçando seus habitantes a deixar suas terras. O motivo da violência é o controle sobre as minas de tantalina, minério utilizado na maioria do

Um olhar feminino sobre a incipiente república brasileira

Parece incrível, mas somente neste ano tomei conhecimento da existência da escritora brasileira Júlia Lopes de Almeida. Um dos autores mais lidos em sua época – final do século XIX e início do XX -, ela foi apagada do quadro dos fundadores da Academia Brasileira de Letras (ABL), após ser anunciada como uma das participantes, e também, até bem pouco tempo, da história da literatura no país. Me pergunto quantas mais mulheres tiveram suas obras e atuações nas mais diversas áreas esquecidas, propositalmente, apenas por serem do sexo feminino. Instigada por conhecer mais sobre Júlia, cujo marido - o poeta português, dizem que medíocre, Filinto de Almeida - assumiu a cadeira que seria dela e era chamado nas rodas intelectuais de imortal consorte, indiquei seu livro A Falência para o encontro mensal do Círculo Feminino de Leitura (CFL), que aconteceu na minha casa em julho. E ela não decepcionou. Mulherada pirando com Júlia de Almeida. Publicado originalmente em 1901, o romance é u

Uma por TODAS e TODAS por uma

Cheguei ao Círculo de Confiança entre Mulheres, que chamamos carinhosamente de TODAS, por um convite via Facebook, curtido por minha amiga Rachel Añón. Vivia uma fase particularmente triste, com a situação política neste início de 2019, onde confiar era o que mais queria e menos estava conseguindo. Na reunião introdutória, fiquei sabendo da proposta e de cara percebi que muitas das mulheres ali presentes dividiam angústias parecidas com as minhas. Por isso, aceitei o convite das três facilitadoras para participar das dez reuniões quinzenais, que estão em curso. O formato um pouco formal e regrado dos encontros me assustou no início, mas a força dessas vinte e poucas mulheres que formaram o grupo quebraram meu ceticismo de pessoa que desconfia e se sente um tanto desconfortável com tudo o que não é puramente intelectual. Hoje, aguardo ansiosa nossas reuniões. Mulheres juntas são como flores: melhoram o mundo. É o que fazemos lá? Em primeiro lugar, cuidamos umas das outras p

Com os incas, aprendi que distopias acontecem

Sempre quis conhecer Machu Picchu pela incrível beleza da cidadela, mas pouco sabia do império inca, além do fato de ter se estendido por grande parte da costa oeste do continente sul-americano e ter desaparecido com a chegada dos espanhóis. Descobrir que o Peru é um país inca – ou pelo menos o estado de Cusco com certeza o é -, foi uma surpresa. Encontrei uma população preocupada em recuperar todos os aspectos de sua cultura usurpada há 500 anos pelos conquistadores europeus e rever cada pedacinho de sua história. Machu Picchu, a joia que os espanhóis não acharam. O que ouvi de guias, motoristas, vendedores, artesão, garçons e todas as pessoas com que tive contato é uma versão ainda impensável no Brasil, país onde seus habitantes originais foram praticamente exterminados e os poucos que resistiram ainda precisam lutar por seu reconhecimento e, no momento, por garantia de vida. Lá, a população majoritariamente de descendência índia tem mais facilidade em se identificar com aque

Amianto deveria ser discussão encerrada

Deixei o pudor de lado e assumo meu lado chata de galocha. Em um mundo cada vez mais idiotizado, onde quem olha o copo meio vazio é destinado à marginalização, estou me encaminhando pra lá. Me desculpem os felizes de plantão, mas o copo do Brasil está meio vazio e está furado. São tantos os absurdos e retrocessos, que ficar colecionando limões para fazer limonada vai acabar afogando todo mundo. Dos descalabros mais óbvios, do tipo armar a população e deixar criancinhas a voar soltas nos carros, todos os neopoderosos tiram da cartola pacotes de maldades menos populares, mas também nocivos, que podem passar desapercebidos no tsunami de incêndios que a sociedade civil organizada – ou, em bom português, que pensa – tem que apagar. Fibra de amianto: imagina ela no seu pulmão! Uma desses pacotes, que parecem não morrer nunca, é a volta da discussão para a liberação da produção de amianto, encabeçada por políticos de Goiás, onde fica a mina finalmente fechada em 2017, quando o Supremo

Cidade de São Paulo aprova política de segurança hídrica

O momento político é tão desalentador que, quando temos uma boa notícia, dá até medo de comentar e alguém da turma dos neoempoderados da brigada do “vamos acabar com tudo que há de civilizado no país” se entusiasmar e pegar mais uma causa para detonar. Ainda mais na Semana do Meio Ambiente – por isso vamos nos benzer antes. Mas o fato é que, na última sexta-feira (31/5), a prefeitura de São Paulo sancionou a lei que institui a Política Municipal de Segurança Hídrica. Rio Pinheiros, aquele eternamente na fila de despoluição. Tudo bem que é, ainda, apenas um documento, mas sinaliza em uma direção de avanço significativo. E é resultado de uma iniciativa da sociedade: a campanha Vote pela Água, da Aliança da Água, lançada durante a eleição municipal de 2016. Para quem não sabe ou não se lembra, a Aliança foi formada durante a crise da água de 2014, quando a cidade de São Paulo quase entrou em colapso de abastecimento por conta da seca severa, que praticamente zerou a capacidade de

Mulheres poderosas

Valorizar o protagonismo feminino sempre esteve na minha pauta, mas ultimamente tornou-se uma obsessão. Enquanto a atuação feminina não for fortemente valorizada para além dos limites do lar, o risco da sociedade embarcar em retrocessos bancados por machos inconformados em perder privilégios ou por mulheres que veem Jesus na goiabeira ou têm outros problemas que as impede de ter sororidade – não consigo entender o motivo – são grandes. Nem sei ao certo o que posso fazer nesse sentido, mas o primeiro passo é conhecer e divulgar, dentro das minhas possibilidades, o trabalho de mulheres que estão fazendo diferença nesta nossa combalida sociedade. Há um mês participo do Todas - Círculo de Confiança entre Mulheres, no qual tenho conhecido mulheres muito interessantes e decididas a compartilhar suas experiências. Nos últimos dias, também tive o privilégio de presenciar alguns eventos que me deixaram otimista não apenas sobre o quanto as mulheres têm feito – já que acredito que sempre fiz

Desci do salto

Ganhei minha primeira sandália de salto alto aos 14 anos para o casamento de uma prima. Foi amor à primeira vista. Eu e os saltos altos sempre nos complementamos. Ele, exercendo seu poder sobre mim, obrigando que me equilibrasse em seu cume, e eu fazendo dele uma muleta contra minha insegurança e falta de altura. A eficácia sempre foi duvidosa, já que a alcunha de baixinha nunca me abandonou, ao contrário, virou minha marca registrada. De acessório para festas, rapidamente os saltos altos começaram a ganhar meu dia a dia e, já aos 17 anos, lembro de vibrar quando lançaram um tênis com salto. Me afeiçoei tanto ao modelo, que cheguei a deprimir quando a moda, tão desconfortável quando a média dos anos 1980, se evaporou como chegou. Ter um trabalho agitado, que me obriga ir de um lugar ao outro constantemente, nunca me intimidou. Aos poucos, os sapatos de salto alto foram dominando meu guarda-roupa, cada vez maiores, cada vez mais finos. Os anabelas e as plataformas tornaram-se minh

Uma louca sem medo de divertir com ótimas reflexões

A Louca da Casa , da escritora espanhola Rosa Montero, é um livro difícil de definir e delicioso de ler. Parece ser um romance autobiográfico, porém não é bem isso. Pode ser também um ensaio, mas qual é o tema? Literatura, feminismo, criatividade? Tudo isso e mais um pouco. E muito humor, que nos transforma nas “loucas do livro” ao nos brindar com diferentes versões sobre um mesmo acontecimento, ligado a um romance de juventude com um famoso ator de Hollywood. Lembrei da sensação de ler Tia Julia e o Escrevinhador , de Mario Vargas Llosa. Não deve ser à toa que o elogio do grande escritor à obra esteja na capa do livro, editado pela Harper Collins. A obra foi o tema da reunião mensal do nosso Círculo Feminino de Leitura (CFL) e nos arrebatou com a originalidade com que trata de temas que nos são caros. CFL com A Louca da Casa . Seja quando conta suas estripulias juvenis ou quando divaga sobre as motivações e agruras da vida de romancista, nos oferecendo casos (estes, garante,

Descobrindo o Parque Vila Madalena

Domingo passado achei na internet toda uma programação, que incluía várias apresentações musicais, em um Festival do Parque Vila Madalena. Fiquei bastante curiosa, pois sou moradora do bairro há mais de 20 anos e não conhecia tal lugar. Ao olhar a localização, vi que se tratava da região do entorno do Beco do Batman, aqui do lado de casa. Corri pra lá. Grafites são a grande atração no local. Conheço todo aquele pedaço, inclusive o beco, pelo qual cortava caminho quando podia passar carro. E mesmo assim comemorei quando o trânsito foi proibido ali. Mas nunca tinha ido passear por lá em um domingo. Podem me chamar de tonta. Pois que me surpreendi e fiquei encantada com o que encontrei. Toda aquela baixada, entre a Harmonia, a Inácio Pereira da Rocha e a Aspicuelta, tomada de gente curtindo uma variedade de atividades, incluindo brincadeiras para crianças, uma feirinha com produtos descolados, vários bares e restaurantes, que conhecia a existência, mas não as cadeirinhas de praia

Sanear é preciso

Se tem uma coisa que nunca teve investimento massivo no país é o saneamento básico. Isso diz muito sobre a falta de consciência sobre direitos que afeta nossa população. O brasileiro aceita facilmente a ladainha política de que nossa defasagem é tão grande que não pode ser solucionada e acaba achando natural conviver com rios que são esgotos, mares cheios de resíduos, populações inteiras vivendo ao longo de córregos infectos e no meio do lixo. Com isso, fica fácil acreditar na ideia de grandeza baseada em destruição de florestas, mineração em qualquer lugar e de qualquer jeito, produção agrícola a base de todo tipo de agrotóxico em quantidades astronômicas. Já que estamos condenados a viver na porquice, que ela seja ilimitada. Legenda dispensável. A Lei Federal do Saneamento Básico (Lei n o 11.445/07) completou doze anos no início deste ano sem que a universalização desse serviço público esteja sequer próxima no Brasil. No final da segunda década do século 21, mais de 35 milhõ

Quero teletransporte

Se houvesse teletransporte, poderíamos chegar a alguns locais rapidamente, mas este não é o meu ponto. A questão aqui é poder chegar ao local desejado sem ter que ver o que não deveria existir e, existindo, incomoda muito. Complexo Cultura Julio Prestes, São Paulo. Por exemplo, se houvesse teletransporte, eu poderia ir assistir a um concerto na Sala São Paulo sem ter que presenciar a escuridão e a sujeira que permeiam aquela parte da cidade, onde seres desvalidos vagueiam saqueando o lixo, fumando craque, vivendo (ou tentando sobreviver) embaixo de marquises (os sortudos) ou encostados em muros, enquanto outros (um pouco menos desprivilegiados) correm de um lado para o outro em estado de superatenção, torcendo para chegar ao destino sãos e salvos. Caso isso fosse possível, talvez eu não percebesse, por contraste, que praticamente todos os que estão nessa situação que não deveria ser vista são negros, enquanto os do lado de dentro do teatro (tirando alguns gatos pingados) sã

O dote

O maior vexame da minha vida aconteceu durante uma audição de piano. Tocaria Escorregando, de Ernesto Nazareth, e Tico-tico no Fubá, de Zequinha de Abreu. Mas quando entrei no palco, me sentei e olhei para as teclas, foi como se fosse fazer um discurso e na hora em que visse o texto a ser lido ele estivesse em mandarim. Era como se fosse a primeira vez que visse um piano, não sabia por onde começar. Tomada de pânico, consegui levantar, agradecer e sair totalmente perdida. Tinha 17 anos e estudava piano há nove. No camarim, fui recebida com abraços da atônita professora e das colegas, mas só conseguia chorar e me sentir miserável. Atendendo aos apelos de todas elas, ao final das apresentações, voltei ao palco e disparei a pior interpretação de Tico-tico no Fubá da história. Lembro de ter sido aplaudida, o que não me confortou. Meus pais, com a sensibilidade que lhes era característica, disseram que os fiz passar vergonha, me deixaram em casa com minhas lágrimas e foram comer pizza.

Sobre mérito e vitimização

Assisti ontem ao TEDx da incrível cientista e professora Joana Felix no qual conta sua trajetória de menina negra e pobre de Franca, interior de São Paulo, até o pós-doutorado em Harvard e o trabalho fantástico que conduz na Escola Técnica Estadual (ETEC) Professor Carmelino Corrêa Júnior, na sua cidade natal. Impossível não se emocionar com as experiências que ela conta sobre os resultados das pesquisas que realiza com seus alunos (também pobres e ainda no segundo grau) sempre voltadas para resolver algum problema concreto. Apesar dos 82 prêmios que ganhou – incluindo o Kurt Politizer de Tecnologia de “Pesquisadora do Ano”, em 2914 – Felix ressalta que seus maiores prêmios são os agradecimentos de pais que viram seus filhos trocarem a prostituição e o tráfico pela ciência. Claramente superdotada, a cientista alfabetizou-se sozinha aos quatro anos e, esta foi sua grande sorte, a façanha foi descoberta pela diretora de escola na casa de quem sua mãe trabalhava como empregada domésti