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Mostrando postagens de outubro, 2012

Tietê despejado

Notícias dão conta que a Prefeitura deu prazo até 16 de novembro para o Clube de Regatas Tietê deixar sua sede na av. Santos Dumont com Marginal Tietê. Não tenho como avaliar se a medida é justa ou não, afinal o espaço é público e o clube é privado (ou pelo menos privativo para seus sócios). Isso não impede que sinta uma tristeza profunda pelo lugar em que passei os melhores momentos de minha infância e adolescência. Ser sócio de um clube em São Paulo é uma maneira de pertencer a uma comunidade, ter um lugar para ir quando não se tem nenhum lugar para ir. Isso era verdade absoluta para quem crescia na Zona Norte nos anos 1970, quando o único parque era o Horto Florestal (e ficava longe) e as praças eram praticamente inexistentes (aliás, não sei se a situação mudou muito, apesar do Parque da Juventude...). Tudo bem, a rua ainda era uma alternativa, mas o aumento do movimento de carros já fazia as mães preferirem os filhos em casa vendo televisão. Quem podia ‘ter’ um clube, era um

A USP vai desaparecer...

O alerta veio do meu marido, André, outro dia quando olhava pela janela do quarto: “Você viu o novo prédio que estão construindo? A USP vai sumir da nossa visão...” Mesmo tendo precedentes, a notícia me entristeceu. É a última réstia de horizonte do alto do meu décimo quarto andar na Vila Madalena. Em uma cidade onde a especulação imobiliária expulsa moradores e incrementa o trânsito sem dó nem piedade, falar sobre direito à paisagem parece conto da carochinha. Já sei que a única coisa a fazer é me conformar. No apartamento que morei antes deste, na Água Fria (bairro da Zona Norte na parte alta de Santana), em cinco anos vi uma panorâmica de 180º - que ia da Zona Leste ao Pico do Jaraguá - desaparecer atrás de três edifícios. Primeiro sumiu o Anhembi e o Centro, junto com nossa privacidade, a partir dali sujeita à sacada do prédio em frente. Logo depois, foi a vez da Zona Leste e sua imensa planície sumirem do mapa. O pico da Jaraguá desapareceu duas semanas antes de nos mudarmos

Barulho onipresente

O bem mais precioso para um paulistano é o silêncio, embora tenhamos apenas uma vaga ideia do que ele seja. Mesmo os maiores exercícios de abstração são insuficientes para lembrar o que pode ser isso. O barulho, por vezes (como agora) ensurdecedor, é como um metrônomo a nos manter no ritmo que a cidade impõe, mesmo que seja parado no trânsito ou tentando dormir. Daqui do meu espaço de trabalho, por exemplo, tenho da janela uma visão rara de árvores e jardim. Estou longe da rua e o ambiente é tranquilo e ideal para pensar. Mas... há uma obra nos fundos. Desde que me instalei no local, há dez meses, um prédio enormemente desproporcional ao entorno está sendo erguido e dá uma sensação de vertigem a quem se aventura na horta do quintal. O barulho, porém, é ininterrupto, sinfônico, onipresente. A metrópole tem som e cheiro. Sentada no café da Casa das Rosas outro dia, curtia o burburinho das pessoas conversando nas outras mesas, o tipo de som gostoso para embalar um café. De re

Pobres árvores

Vida de árvore paulistana não é fácil. Não bastasse terem de se submeter às necessidades da fiação, que as condenam a uma vida de mutiladas, e das calçadas, que deixam suas raízes cimentadas, elas ainda são sempre consideradas obstáculos – seja aos pedestres nas mesmas calçadas, seja às inúmeras obras públicas e empreendimentos imobiliários. O importante é que, seja qual for o motivo, elas sempre levam a pior. Até quando são “esquecidas”, elas se tornam um objeto bizarro. Em uma nova avenida que está sendo construída no Morumbi, a empreiteira contratada pela prefeitura asfaltou a via com 20 árvores no meio (FSP, 3/10/2012, p. C8)! A justificativa é que a própria prefeitura não autorizou ainda a retirada das árvores. Mesmo não aberta oficialmente, a avenida já vem sendo usada por motoqueiros para fugir do trânsito. Se algum acidente ocorrer, todo mundo já sabe de quem será a culpa: da árvore. É essa também a percepção quando árvores debilitadas (por fios, falta de espaço para a