Pular para o conteúdo principal

Um bem de todos nós


Tive nesta semana uma grata surpresa ao receber o livro infantil Água, do ilustrador indiano Subhash Vyam, publicado pela FTD. Além das ilustrações muitos bonitas e da história comovente, que se passa na Índia, mas poderia tranquilamente ser de milhares de brasileiros, tenho uma pequena participação na publicação, pois fui convidada para fazer um posfácio contextualizando para os pequenos leitores daqui a questão da água no mundo e no nosso país. A obra parte da narrativa oral em híndi do artista, recontada em inglês por Gita Wolf e traduzida por Claudio Alves Marcondes para o português.

A narrativa, baseada na vida do autor, conta sobre sua infância em uma aldeia pobre onde a escassez de água determinava a dinâmica da comunidade. Depois, foi para a cidade para estudar e trabalhar e se surpreendeu que, também lá, apesar de toda estrutura e do desperdício com seu uso, muitas vezes a água também faltava na torneira.
Sem perder o vínculo com a aldeia natal, descobriu em uma de suas visitas que a construção de uma barragem poderá inundar o vilarejo, desalojar a população e destruir seu modo de vida. Toda a narrativa leva a uma reflexão sobre como nos relacionamos e fazemos uso da natureza. Ao ponderar sobre o estilo devida de seus conterrâneos, percebe que na aldeia “sempre fomos muito modestos para satisfazer as nossas necessidades. Claro que gostaríamos de algum desenvolvimento, mas não de modo a prejudicar o lugar em que vivemos”.

E conclui: “Não, o problema que estamos enfrentando não foi causado por nada que a gente tenha feito – na verdade, é um problema que surgiu por causa da ganância da cidade. Não de todas as pessoas que moram na cidade, mas das ricas e poderosas que, para alcançarem o que desejam, não se importam com as consequências de seus atos”.
Tudo muito lindo, poético e claro.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Clubes de leitura: revoluções individuais a partir dos livros

Quem me conhece sabe da importância que participar de um clube de leitura tem na minha vida. Especial para mim e para as demais membras, o Círculo Feminino de Leitura-CFL, ao invés de se tornar rotina, foi ganhando maior espaço em nossas vidas ao longo do tempo e transfomou nossa maneira de ver o mundo. Por isso, ao receber da Nivia, uma de minhas companheiras de CFL, uma foto do livro Clubes de Leitura – Uma aposta nas pequenas revoluções (Solisluna Editora), de Janine Durand e Luciana Gerbovic, fiquei com coceira nos olhos e fui correndo comprar. As autoras escrevem a partir de suas experiências de mediadoras de clubes de leitura e abordam o potencial da literatura como caminho para libertação pessoal. Advocam que a literatura é um Direito Humano, mas pouco respeitado no Brasil. As duas são articuladoras do Programa Remição em Rede, que fomenta clubes de leitura em unidades prisionais para remição da pena por meio da leitura. Trazem depoimentos tocantes de pessoas transformadas pelo...

Calorão no inverno parece bom, mas não é

Lembro de acordar e sentir cheiro de orvalho, encontrar o chão do quintal e as calçadas molhadas de manhãzinha. Era assim todos os dias em São Paulo. E lembro de como odiava os dias garoentos do outono e o frio no meu aniversário, no final de julho. E de reclamar durante agosto inteiro de me levantar cedo para ir para a escola. Detestava ter que me agasalhar demais, às vezes com toca e luvas, e ainda me sentir gelada. Mas tudo isso foi há muito tempo, quando eu era criança. Já na faculdade de Geografia, aprendi com a professora Magda Lombardo o que eram as ilhas de calor e como a urbanização levou embora o orvalho e a garoa da cidade, aumentando sua temperatura. Nada que se compare, porém, com este inverno atípico que assistimos agora, sem saber se ele é apenas excepcional ou o novo normal. A questão é que, para a maior parte das pessoas, que gostam de sol e calor, este tem sido um inverno bom, e estou entre elas. É delicioso não precisar usar casacões, poder dormir, no máximo, com...

80% da água doce da Terra está na Antártica

  De todos os locais que gostaria de conhecer, mas duvido que consiga, a Antártica está no topo da lista. É muito longe, é muito caro, é muito frio. Mas é fascinante. Estou aqui embevecida com o livro Expedições Antárticas, do fotógrafo e biólogo Cesar Rodrigo dos Santos, que teve o privilégio de estar 15 vezes por lá, entre 2002 e 2017, e registrar imagens de tirar o fôlego. O livro ainda tem com o plus dos textos serem da minha amiga Silvia Marcuzzo, que conta as aventuras de Cesar, e nos traz detalhes da infraestrutura e o trabalho desenvolvido pelo Brasil no continente gelado, da geografia e da biodiversidade locais, assim como os desafios do último lugar remoto do planeta. É uma região sobre a qual tudo o que sabemos, normalmente, se resume às suas paisagens de horizontes brancos infinitos e pinguins amontoados. Mas é um território a ser muito estudado, até porque as mudanças climáticas podem modificar rapidamente o que conhecemos até agora: “O continente antártico é reple...