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Mostrando postagens de julho, 2018

Minhocão, do tico-tico aos murais

O primeiro lugar em que morei foi um apartamento na Bela Vista, na rua Martinho Prado, no prédio onde funcionou por muitos anos o Ferro’s Bar, primeiro ponto de encontro de mulheres gays na cidade. Claro que eu não sabia disso, já que me mudei de lá aos cinco anos. Segundo o jornalista Mouzar Benedito, no Blog da Boitempo [M1]   , até 1964, ano em que nasci e em que houve o golpe militar, o bar era frequentado por militantes comunistas, mas com as perseguições que se seguiram passou a ser ocupado pelas lésbicas. A repressão ao local continuou, como se pode imaginar, mas era de outra natureza [M2]   e não é essa história que eu queria contar. Falando do que me lembro sobre esse meu primeiro endereço, meu parquinho era a praça Roosevelt e, este é o ponto, andava de tico-tico (para quem sabe o que é isso) no Minhocão, enquanto estava sendo construído. Acho que meu pai me levava lá nos fins de semana, quando não havia obras (nem sei se aconteceu mais de uma vez), mas é uma imagem qu

Sandubas tradicionais paulistanos são para os fortes

Há pelo menos três sanduíches tradicionais paulistanos: o Bauru do Ponto Chic, o de mortadela do Mercado Municipal e o de pernil do Estadão. Todos são deliciosos, todos têm por base o pão francês – típico da cidade -, todos são exagerados. Isso significa que é praticamente impossível comer sem se lambuzar e devorá-los por inteiro é para os fortes. O Bauru do Ponto Chic, diz a lenda, foi criado nos anos 1930 por um dos alunos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco que frequentavam o bar no Largo do Paissandu, cujo apelido era o nome de sua cidade natal e acabou batizando também o sanduba. Embora se possa comer bauru em qualquer padaria paulistana – sanduíche caracterizado por ser um misto quente (queijo e presunto) com tomate -, o do Ponto Chic é muito mais incrementado: inúmeras fatias de rosbife, tomate em rodelas, pepino em conserva e uma mistura de quatro tipos de queijos fundidos em banho-maria (prato, estepe, gouda e suíço). Hoje pode ser encontrado nas três lojas do

Literatura que vem da África será destaque na Flip

O que uma mulher, que se sente inadequada com seu corpo – e carrega esse peso real e metafórico – por toda a sua vida, tem em comum com outra mulher, que se sente insatisfeita no papel de mãe e se apoia em uma babá para se realizar profissionalmente, e essas duas com um porco-espinho condenado a ser o duplo de um humano e fazer maldades em seu lugar? Aparentemente nada, a não ser o fato de serem personagens de três livros escritos por autores nascidos na África e revelados para a literatura na Europa. Isabela Figueiredo, autora de A Gorda , é moçambicana, filha de portugueses, e se mudou para Portugal após a independência da colônia; Leila Slimani, autora do best-seller Canção de Ninar , nasceu no Marrocos e vive na França; Alain Mabanckou, autor de Memórias de Porco-espinho , é natural da República do Congo, despontou para a literatura na França e hoje mora nos Estados Unidos. Os três estão entre os escritores convidados da próxima Festa Literária Internacional de Paraty (Flip),