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Mostrando postagens de agosto, 2020

Mulheres odiadas (e violentadas)

Me programei para escrever nesta semana sobre áreas protegidas, um tema que acompanho há tanto tempo e mais um dos que só trazem péssimas novidades. Queria comentar o desespero que são as queimadas e o desmatamento sem precedentes que tomaram conta do país e as desventuras em São Paulo, com toda a mobilização que a sociedade civil foi obrigada a fazer para evitar que a Fundação Florestal fosse extinta. Também pretendia ser leve e abordar a importância dessas áreas para nossa vida, inclusive como refúgio que espero se tornem para humanos terem momentos de lazer e um pouco de liberdade pós-pandemia. Eu e minhas filhas, quando tinham dez anos, apenas brincando, que é o que meninas de dez anos fazem. Mas isso fica para uma próxima oportunidade, porque desde o fim-de-semana só consigo pensar no horror supremo do caso da menina de dez anos estuprada, engravidada e perseguida pela horda de cristandade que, em suas várias versões, submete corações, mentes, fé e política no Brasil desde

Divagações sobre a cidade e a condição de cidadão

Uma certeza que carreguei até aqui era ser uma citadina. Mesmo minhas incursões campesinas, praianas ou florestais como turista ou a trabalho pareciam reforçar a convicção. Estar em São Paulo era estar em casa. Aliás, a metrópole funcionava como extensão da minha casa. Sempre gostei e interagi com sua efervescência, com a possibilidade de encontros, a diversidade cultural e de lazer, a facilidade de acesso a produtos imaginados a qualquer momento. Minha máxima era: se a pessoa não aproveita o que a cidade tem de bom, porque passar pelos perrengues – trânsito, poluição, transporte e calçadas precários, falta de segurança... São Paulo da janela do Masp. A consciência de que estar ou não na cidade e do que fazer nela são privilégios e não escolhas estava presente, mas com condicionantes, até que a pandemia se instalou e tive um duplo impacto. Por um lado, acabou minha liberdade de decidir o que fazer com meu tempo, por outro, tive a opção de sair sem grandes esforços e com muita

Confusão mental

Mais de cinco meses depois que abandonei abruptamente minha até então vida para me refugiar na chácara, onde nunca pensei em morar, já não sei o que devo fazer. Ficar de quarentena ficou fora de moda de repente, quase ao mesmo tempo em que o país se aproxima de 100 mil mortos pela doença e que os índices de contaminados sobem vertiginosamente. Deve haver alguma coisa no isolamento que embotou minha capacidade de entendimento e os remédios da vez (cloroquina, invermectina e agora ozônio via retal) não são para esse mal. Estou meio perdida, algo me escapou sem que percebesse. Esperando o tempo passar. Não que eu acredite que tenha que seguir a boiada (será que posso falar isso?), mas a sensação de ficar para trás não é boa. Será que sou preguiçosa e não quero procurar novos desafios? Será que não ter um chefe me obrigando a voltar para o escritório é sintoma de fracasso? Será que meus amigos não são bons porque não me convidam para festas, ou sou egoísta por não os estar convid