O Brasil é líder global na produção agropecuária e pode ser
tornar o maior exportador de alimentos do mundo nos próximos anos. Para isso, porém,
o país precisa estar preparado para enfrentar os impactos das mudanças
climáticas. A poucos dias do início da reunião anual da Convenção do Clima (COP-25),
em Madri – que seria no Brasil, mas foi esnobada pelo seu (des)governo, não
esqueçamos -, esse alerta foi amplificado com o lançamento do working paper “Papel do Plano ABC e do Planaveg na Adaptação da Agricultura e da Pecuária às Mudanças Climáticas”,
pelo WRI Brasil.
O estudo traz pesquisas e análises que mostram quais são os
impactos das mudanças climáticas na agricultura brasileira e como eles podem
ser minimizados por meio da implantação das tecnologias do Plano Nacional de Agricultura de Baixo Carbono (Plano ABC) e da Política Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg). Espera-se uma redução de 17% na produtividade
agrícola global até 2050, causadas por essas mudanças, cujos principais
impactos são: alterações nos ritmos de ganho de biomassa vegetal e animal; modificação
nos padrões fenológicos; diminuição da fertilidade animal e vegetal; e aumento
da susceptibilidade a doenças. Estima-se que, no Brasil, em nove culturas
(algodão, arroz, café, cana, feijão, girassol, mandioca, milho e soja), em
pastagens e na pecuária de corte, os efeitos levariam a um impacto negativo de
US$ 4 bilhões em 2050, com a soja responsável por 50% dessas perdas.
A adoção de tecnologias de baixo carbono, disponíveis e já
em implantação no Brasil (infelizmente por uma minoria de visionários), poderia
ajudar o país a reduzir, em muito, os prejuízos que terá com as mudanças
climáticas. Essas tecnologias, que incluem a recuperação de pastagens e os
sistemas integrados lavoura-pecuária-floresta, lavoura-floresta, pecuária
floresta, além dos sistemas agroflorestais (SAF), entre outras vantagens, minimizam
os efeitos de eventos extremos, como secas prolongadas, picos de calor e de
frio, e tempestades. Se aplicados conjuntamente às metas do Planaveg, de
recuperar pelo menos 12 milhões de hectares até 2030 de vegetação nativa, em
áreas de preservação permanente (APP), de Reserva Legal (RF) e degradadas com
baixa aptidão agrícola, beneficiariam não apenas o setor agropecuário como o
país como um todo.
Este working paper
levou mais de um ano de trabalho árduo para ficar pronto e contou com a
participação dos especialistas Eduardo Assad, Luiz Claudio Costa, Susian
Martins, Miguel Calmom e Rafael Feltran-Barbieri, e a coordenação de Carlos
Nobre. Também tive a honra de participar desse trabalho e aprender um monte com
essas feras.
Durante a apresentação do estudo, na semana passada, uma das
grandes questões era entender porque, com tantas evidências, essas tecnologias
ainda não são mainstream na
agropecuária brasileira. Ao contrário, parecem ser combatidas por grandes
representantes do setor.
Além de questões como falta de formação técnica – tanto dos
agropecuaristas quando dos financiadores - ou as facilidades propiciadas pela
ilegalidade, Daniela Mariuzzo, diretora executiva do IDH Brasil (Iniciativa
para o Comércio Sustentável) lembrou que a decisão final sobre a adoção de
qualquer prática é do próprio agricultor, normalmente preocupado com sua
lucratividade ou sobrevivência de curto prazo. Ganhar corações e mentes dessas
pessoas talvez seja o desafio mais urgente de todos que lutam por um país mais
resiliente e preparado para enfrentar o que vem pela frente.
Competir com a propaganda de fronteira agrícola infinita -
na qual progresso é desmatar e plantar indefinidamente e de qualquer jeito -, gastar
energia para libertar ativistas presos como se fossem vilões da floresta ou
explicar que Leonardo DiCaprio não financia incêndios na Amazônia entre um
filme e outro têm sido um fardo para quem persegue essa meta.
Veja o estudo na íntegra: http://bit.ly/AdaptacaoAgro
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