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Mostrando postagens de maio, 2020

Educação contra o fanatismo

Pela primeira vez, nos quase 12 anos do Círculo Feminino de Leitura (CFL), pulamos um encontro mesal. Mas, finalmente, conseguimos nos reunir remotamente. Demorei um pouco, mas gostaria de fazer algumas considerações sobre nosso livro tema - “A menina da Montanha” -, que traz a autobiografia da estadunidense Tara Westover. Criada em uma família mórmon fanática, Tara só pisou em uma sala de aula aos 17 anos, já no ensino superior, depois de uma batalha com os pais e com a própria falta de instrução. O livro a acompanha até o doutorado em Cambridge e à sua libertação do jugo familiar. A primeira observação interessante sobre o livro é a tradução do nome original para o português: “ Educated ” passa a ser “A menina da montanha”, o que remete falsamente a um romance adolescente. É como se o brasileiro fosse idiotizado já de saída. Para os editores, não compraria um livro que se chamasse Educada ou Escolarizada, que é a grande mensagem da história (será que é isso mesmo?). Só o acess

A cara do Brasil

Me pergunto em qual contexto pode ser razoável dizer que CNPJs estão na UTI e vão morrer e por isso as medidas de isolamento social adotadas por estados e municípios devem ser rapidamente relaxadas, em meio a uma pandemia que já matou oficialmente 10 mil brasileiros (ou seriam CPFs?), com os números diários de vítimas subindo a cada dia. Também tento entender sob qual ponto de vista minha liberdade (de fazer o que bem entender) está acima da vida (de qualquer pessoa). Além destas, fomos brindados, nesta semana nefasta, com pérolas como a afirmação de que a pandemia já está controlada nas classes média e alta, portanto, podemos respirar aliviados, de preferência bem perto uns dos outros trabalhando e comprando para movimentar o “mercado”. Ou a, não menos significativa, iniciativa de incluir empregadas domésticas como serviço essencial. Talvez, para parcela da população, que possivelmente nunca se deu ao trabalho de sequer registrar essas profissionais, pagá-las sem que prestem

Cada epidemia tem seu gráfico

O nome poderia ser índice de solidariedade humana, de empatia ou simplesmente de humanidade mesmo. Como o que mais fazemos atualmente é ver gráficos e curvas, acho que este também seria procedente e ajudaria a entender uma epidemia nada silenciosa que vem ameaçando o país de maneira tão avassaladora quando o coronavírus. Começa com uma linha de base zero, formada por bolsominions que fazem manifestações durante o isolamento social – Bolsonaro & filhos e seguidores que batem em mulher, enfermeiras e jornalistas não entram porque estão abaixo da linha e não dá para começar o gráfico no negativo. A partir daí a curva vai subindo até atingir o pico, que seria nível, por exemplo, padre Júlio Lancellotti. Há vários outros exemplos, mas acredito que esse seja suficiente para estabelecer o padrão. Ao contrário da curva de contágio e mortes do covid-19, o ideal para acabar com esse tipo de vírus da desumanidade seria que a curva crescesse rapidamente e, ao atingir o pico – ou até u

O céu é a nova fronteira

Olhar o céu é uma experiência quase transcendental para uma paulistana que, de seu apartamento, não consegue nem ver a lua. Estrelas são artigo tão remoto quanto cobras e jacarés. Mas há mais de um mês na chácara em quarentena, viciei. Paro tudo o que estiver fazendo pontualmente para ver o pôr-do-sol, que tem se esmerado nesse tempo seco e de céu limpo. Só não aplaudo porque meus filhos me proibiram. Um pouco mais tarde, quando a escuridão se impõe, mas o frio ainda não deu as caras, passo alguns minutos admirando o firmamento. Nessa hora, me transporto para a infância e acompanho as fases da lua, procuro Vênus e Marte, as Três Marias, o Cruzeiro do Sul, tento contar as estrelas e escolher a mais brilhante. É o momento de paz que antecede a queda na realidade de quando ligo a TV para o noticiário. Deitar no gramado para mirar o céu embrulhada em mantas de avião (sim, peguei algumas de souvenirs), é minha maneira de viajar e me sentir conectada ao mundo em época de pandemia.