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Mostrando postagens de março, 2019

Um “curso” para entender o amor romântico e fazer com que dure para sempre

Livro do mês do CFL.  O que faz um casamento feliz e duradouro? A escolha certa? As experiências anteriores do casal? A vontade de que dê certo? Quais as vantagens e os problemas causados aos relacionamentos no modelo de amor romântico que rege as relações na nossa época? Essas são as questões que o escritor e filósofo suíço Alain de Botton tenta responder no livro O curso do amor , no qual mescla a história do casal Rabih e Kirsten com intervenções analíticas sobre como funcionam os relacionamentos e que foi o tema da reunião do nosso Círculo Feminino de Leitura (CFL) de março. A leitura, às vezes gostosa, às vezes entediante, como a vida do casal Khan, em Edimburgo, propositalmente comum - ali apenas para servir de escada para as digressões do autor -, nos traz, porém, muita daquela sabedoria simples sobre a qual não paramos para pensar. Por exemplo, como o sexo, mesmo sendo bom por si só, ganha sabor com a intimidade, mas também precisa de fantasia para se manter atraente.

Jovens ainda estão com pouca raiva

Greve dos estudantes pelo clima. Convidada a falar sobre mudança do clima e o governo Bolsonaro para alunos da Fundação Getulio Vargas nesta semana, me vi pensando que o Brasil nunca foi um país que desse muita importância para as questões ambientais, mas, aos trancos e barrancos, seguíamos em frente. Mesmo nos governos Dilma e Temer, nos quais o Ministério do Meio Ambiente (MMA) voltou a ser um tanto café com leite e houve retrocessos, havia diálogo e decoro em relação ao tema, com ministros e equipe realmente comprometidos. A diferença é que agora não contamos nem com as aparências, como bem mostrou o editorial da Folha de S. Paulo de ontem ( Neurose ambiental , 25/3) e, pior, a resposta do “ministro do Meio Ambiente” (entre aspas mesmo, pois não o considero digno do cargo) Ricardo Salles, no Twitter (óbvio), dizendo que trata-se de “estratégia da esquerda militante”. Ver o governo federal tentar ligar uma área tão crucial à sobrevivência humana à uma questão ideológica com

Uma chance à poesia

Ilustração de Manoel de Barros. Sempre achei que um dos meus principais defeitos de nascença era a falta de gosto sincero pela poesia. Como uma pessoa que ama tanto ler não se identifica com um tipo de escrita tão nobre? Claro que, ao longo dos anos, me apaixonei por alguns sonetos de Camões, alguns poemas de Vinicius de Moraes e Carlos Drummond de Andrade. Mas se for bem sincera, amor mesmo tenho pelo letrista e pelo cronista, os quais embalaram minha adolescência e ainda hoje me fazem parar o que estou fazendo para escutar uma música ou reler um crônica que vou descobrindo que já conhecia ao longo do texto. Confesso, ainda, que tive uma epifania quando viajei para o Chile com as casas de Pablo Neruda. Visitei as três e chego a sonhar com elas, sobretudo a de Isla Negra. Mas seus livros li sem a mesma emoção. O mesmo vale para Mário Quintana. A cada vez que passo no centro cultural que o homenageia em Porto Alegre me sinto leve e confortada, mas não me animo da mesma forma c

Ligações aleatórias, de Jane Austen à distopia feminista

Imagem conhecida de Jane Austen. Poucas coisas são mais “mulherzinha” do que os livros de Jane Austen. E, no entanto, sou apaixonada por eles. Suas mulheres são fúteis, fofoqueiras, melodramáticas. Será? Escritos entre o final do século 18 e início do 19, quando a única ambição permitida ao sexo feminino no ambiente em que vivia (o que seria hoje uma classe média alta e rural na Inglaterra) era conseguir um bom casamento, me parece mais que eram inteligentes e pragmáticas. Afinal, em um mundo onde não tinham nenhuma voz ou direito, que melhor saída para uma contrariedade, na qual não tinham a mínima chance de fazer valer seu ponto de vista, do que desmaiar? Esse recurso é usado mais de uma vez no engraçado e trágico conto Amor e Amizade , que acabei de ler. Escrito quando Austen tinha apenas 15 anos, narra as desventuras econômicas e amorosas de Laura, que conta sua história por meio de cartas à filha de uma amiga, em um tom de ironia e tragicomédia que prenunciam a grande au

À procura da razão, contra a barbárie

Orquídea do jardim, para lembrar que há muita coisa boa e linda. Desde o final do ano passado tenho feito uma peregrinação voltada a entender o que está acontecendo no país. Isso inclui ler muitos artigos, ter engulhos nas redes sociais, fazer cursos e me refugiar na arte, sobretudo exposições e literatura. Tento achar onde nos perdemos e, a cada instante, me convenço de que nunca nos encontramos realmente, como povo, como nação, como cidadãos. Mas já tivemos dias muito melhores. Em mais uma dessas tentativas de busca, me inscrevi no curso Obras Abertas: História Sincrônica da Literatura , na Casa Guilherme de Almeida. Ontem (13/3), na primeira aula, o escritor e professor Flávio Ricardo Vassolar, por conta do massacre na escola de Suzano, escolheu um texto – já previsto na grade – de Amós Oz (do livro Como curar um fanático , Companhia das Letras, 2018). Para Vassolar, tragédias como essa tendem a se repetir por um fenômeno que chama de “narcisismo necrófilo”. Em uma socie