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Mostrando postagens de fevereiro, 2016

Favela na calçada

A permanência da existência de favelas na nossa sociedade, como se fosse a coisa mais natural do mundo, já é uma aberração. Mesmo as famosas, como Heliópolis e Paraisópolis, hoje mais bairros pobres (romantizados em novelas de TV), me deixam indignada pela lógica de castas de cidadãos. Mas ver uma favela se formar, não em um terreno sem uso ou ocupação social e à mercê da especulação imobiliária, mas em plena calçada, é demais para mim. Em plena Vila Leopoldina, na rua Hassib Mofarrej (esquina com a rua Balmann), há menos de 50 metros da escola da minhas filhas, cresce horizontal e verticalmente uma favela espremida entre os muros (não sei do que) e a rua. Não faço a mínima ideia de como aquelas pessoas têm (se é que têm) acesso à água, por exemplo. Vivem em um ambiente de suprema insalubridade, no qual a proliferação de mosquitos é apenas uma das consequências. A cada vez que passo por ali fico pensando se ou o que eu deveria fazer. Já pensei em ligar para a administração regi

De São Paulo para o Cosmos

Há meio século, quando nasci, São Paulo já era uma metrópole, mas seu clima era ameno, com um friozinho gostoso no inverno e noites agradáveis no verão. Não me lembro de ver ar condicionado na casa de ninguém que eu conhecesse durante toda a minha infância. Aliás, nem ventilador. Isso tudo era coisa de quem morava na praia (como mosquitos e pernilongos, aliás!). A primeira vez que ouvi sobre as ilhas de calor foi nos anos 1980, a partir dos estudos da professora Magda Lombardo, da geografia da USP. Na época, já era jornalista e uma aluna mequetrefe da faculdade em que a geógrafa Lombardo dava aulas. Aliás, foi também nas aulas daquela faculdade que ouvi falar pela primeira vez em aquecimento global. Desde aquele tempo, o assunto me tocou e se tornou norte para minhas escolhas profissionais. Confesso que, no início, acreditava que as ilhas de calor eram o maior problema e que plantar algumas árvores na Zona Leste da cidade iria aplacá-lo. As mudanças climáticas eram problema para

Vivas para o #agoraéquesãoelas

Um dia depois de pensar sobre escrever sobre mulheres poderosas, foi lançado o blog #agoraéquesãoelas pela Folha de S. Paulo (http://agoraequesaoelas.blogfolha.uol.com.br/2016/01/27/sozinhas-andamos-bem-mas-juntas-andamos-melhor-2/). E não é que fiquei feliz?!?! O movimento realizado por essas mulheres, agora responsáveis pelo blog (Alessandra Orofino, Ana Carolina Evangelista, Antonia Pellegrino, Manoela Miklos) no ano passado, no qual homens colunistas deram espaço para as mulheres escreverem, foi um dos motivos que me inspiraram a não parar de pensar nesse assunto e na necessidade de colocar esse inconformismo para fora. Saber que esse espaço estará aberto em um veículo de tanta importância já é um grande avanço no sentido de reforçar o feminismo que volta a brotar. Por alguns anos, acredito que a mulherada acabou dando uma trégua, talvez pelo cansaço natural da luta, talvez pelas conquistas inimagináveis há um século. Mas é só parar e olhar em volta para perceber que, de ver

Representatividade

A cidade de São Paulo completou 462 anos na segunda-feira (25 de janeiro), ocasião em que foi homenageada pelos principais veículos de comunicação da metrópole. Uma delas, em especial, me chamou a atenção por trazer sacadas bacanas da cidade, pelo menos para a parte badabá dos moradores, na qual, como jornalista, moradora da Vila Madalena, leitora da Folha de S. Paulo, logicamente me incluo. Publicada na revista Sãopaulo (suplemento dominical da Folha, edição 24 a 30 de janeiro de 2016), a matéria lista 62 motivos para gostar da cidade, muitos deles sugeridos por moradores ilustres. Nos últimos 15 motivos, paulistanos indicam “quem representa a cidade e a transforma com seu trabalho”. O primeiro indica o segundo, que indica o próximo e assim por diante. É aí que mora o problema. Vivemos em uma cidade com 11.581.798 habitantes, dos quais 5.500.051 são homens e 6.081.747 são mulheres (estimativa Fundação Seade, 2015), ou seja, meio a meio, com ligeira predominância feminina. No en