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Descobrindo o Parque Vila Madalena


Domingo passado achei na internet toda uma programação, que incluía várias apresentações musicais, em um Festival do Parque Vila Madalena. Fiquei bastante curiosa, pois sou moradora do bairro há mais de 20 anos e não conhecia tal lugar. Ao olhar a localização, vi que se tratava da região do entorno do Beco do Batman, aqui do lado de casa. Corri pra lá.
Grafites são a grande atração no local.
Conheço todo aquele pedaço, inclusive o beco, pelo qual cortava caminho quando podia passar carro. E mesmo assim comemorei quando o trânsito foi proibido ali. Mas nunca tinha ido passear por lá em um domingo. Podem me chamar de tonta. Pois que me surpreendi e fiquei encantada com o que encontrei. Toda aquela baixada, entre a Harmonia, a Inácio Pereira da Rocha e a Aspicuelta, tomada de gente curtindo uma variedade de atividades, incluindo brincadeiras para crianças, uma feirinha com produtos descolados, vários bares e restaurantes, que conhecia a existência, mas não as cadeirinhas de praia espalhadas pela rua e os vários shows acontecendo por todos os lados. Sem falar das esperadas milhares de selfies sendo produzidas com os grafites ao fundo.
Uma googlada rápida me mostrou que, no início desta década, houve um projeto, parceria entre a ONG Projeto Aprendiz e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, para criar um parque linear na região. Para quem não sabe, esse tipo de parque margeia um rio ou um córrego, com o objetivo de preservar suas margens. A ideia aqui era melhorar o escoamento de água na Vila Madalena, mas infelizmente não saiu do papel. O projeto começaria por desenterrar a nascente do Córrego Verde, uma pequena queda d’água que um dia existiu perto da estação Vila Madalena do Metrô, criaria praças e mirantes até chegar na área de 60 mil metros quadrados, que tem o Beco do Batman como centro.
Todo canalizado, esse córrego é o causador (coitado) das indefectíveis enchentes que acontecem ali mesmo, na baixada onde fica o Beco do Batman, que, pelo menos uma vez por ano, são manchete em algum jornal mostrando a escultura formada pelo empilhamento de carros carregados pela água. Uma vez, há uns 15 anos, quando havia uma pizzaria bem no comecinho da Harmonia, fomos surpreendidos por uma dessas. Em quinze minutos se formou a pilha de carros – o do meu primo entre eles. Corremos ao mezanino para proteger nossas crianças, depois que a água invadiu o restaurante, e ficamos assistindo ao espetáculo bizarro que acontecia na rua. A água baixou em menos de meia hora. Tive sorte. Meu carro foi levado às pressas pelos manobristas para um lugar mais alto e encontrado intacto horas depois.
Tudo isso para dizer que desenterrar o córrego, criando espaços verdes e sem ocupações permanentes, compõem a melhor solução para evitar sustos e prejuízos como esses. Aproveitar que o espaço já é espontaneamente usado como local de passeio é uma oportunidade tão grande, que apenas a tradicional miopia dos gestores municipais justifica ainda não termos, oficialmente, um parque por lá.
Se não há na legislação, tampouco deve ser impossível criar um modelo de área especial e protegida sem desapropriações que prejudiquem toda a cadeia de economia criativa que circula por ali, mas que impeça mais adensamento, que piore ainda mais os alagamentos, e crie novas áreas verdes, por onde o córrego possa fluir e se espalhar quando necessário.
Área do Parque Vila Madalena, segundo o site Catraca Livre.


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