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Mostrando postagens de maio, 2018

O que nos diz o cabelo crespo

Há sempre uma história por trás de um cabelo crespo. Assim como o gênero e a cor da pele, a textura das madeixas conferem status e estereótipos de todo tipo. Cresci ouvindo na família que minha “gadeia” não tinha jeito (mais tarde soube que era a maneira caipira de se dizer gadelha: o mesmo que cabeleira, cabelo disforme), condenada a usar, em grande parte da infância, o corte “Joãozinho”, para não dar trabalho. Nem tinha cinco anos e já me frustrava por não ter os cabelos na cintura e lisos como os da Wanderleia, para poder dançar e chacoalhá-los ao vento. Não é de admirar que, tão logo pude administrar meus problemas capilares, estes passaram a ser de outra natureza: lidar com químicas, toucas e escovas, sempre com resultados efêmeros ou pouco satisfatórios. Só muito mais tarde pude constatar que minha musa teve que passar pelos mesmos dramas que eu até assumir sua juba original. Durante toda a vida lidei com os sentimentos contraditórios dessa herança latina, que no contexto

Há muito mais que cobras e lagartos no Butantan, mas eles ainda são a atração principal

Apesar de um certo incômodo ao dar de cara com jiboias, jararacas, pítons e afins, às vezes te encarando nos olhos, a visita ao Instituto Butantan é sempre um programão. A começar por ficar em meio a uma belíssima área verde, que já vale sozinha o passeio. O fato de poder entrar com o carro e estacionar gratuitamente é quase um milagre em São Paulo e também é um belo convite. Além disso, o ingresso é baratinho (R$ 6,00 o mais caro, para adultos, após vários tipos de isenções e descontos) e vale para os três museus do complexo: Museu Biológico, Museu Histórico e Museu de Microbiologia. Dá para passar um dia inteiro – pena que fecha relativamente cedo (o funcionamento é de terça a domingo, das 9h às 16h45). Mas é claro que a atração principal é o Museu Biológico, com suas serpentes lindas e assustadoras, divertidos lagartos, iguanas e sapos, e os MUITO assustadores aranhas e escorpiões. Confesso que todas as vezes que estive lá, passei correndo por estes últimos. Também tenho dúv

Memorial da Resistência: o que o passado nos diz sobre o presente?

O maior impacto de se visitar o Memorial da Resistência é chegar até lá, antes de entrar. Um verdadeiro soco no estômago. Localizado há uns três quarteirões da Estação da Luz, logo atrás da Sala São Paulo, este museu está instalado na Estação Pinacoteca, em um prédio tombado construído para ser estação ferroviária, mais tarde substituída pela Júlio Prestes, e onde funcionou por 42 anos (entre 1941 e 1983) o famigerado Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo, o DEOPS/SP. Sua proposta é nos conectar com um passado de repressão política pouco lisonjeiro e que nos envergonha como país, mas dar de cara com a marquise do edifício tomada por pessoas vivendo ao relento ou em barracas precárias, em meio a excrementos e restos de comida dos quais precisamos desviar, faz do presente algo intolerável. Se as atrocidades cometidas pelos diversos regimes autoritários que formaram o Brasil, sobretudo o regime militar pós-64, que usou aquele espaço para torturar e matar, é al

Sesc Paulista: novo destino para sentir a cidade de cima

A inauguração de um novo Sesc é sempre motivo de agito na cidade. Em cada canto em que há uma unidade, há cultura, há cidadania, há inclusão. Quando isso acontece em plena avenida Paulista, a expectativa só pode ser triplicada. Aberto há pouco mais de uma semana, o Sesc Paulista se transformou no assunto, o lugar que todos precisamos conhecer. Não resisti. Fui no sábado, um pouco receosa de ainda encontrar ecos das filas que aconteceram durante o feriadão. Mas elas não haviam, apesar do movimento intenso. Entrar em prédio, em plana Paulista, sem precisar se identificar ou passar por nenhuma catraca já vale a visita. Entendo todas as formas de medo e necessidade de segurança de nossa sociedade, mas a sensação de ser bem-vinda que entrar e seguir diretamente para o elevador, sem interrupções, dá é muito boa. O destino de praticamente todos que chegam é o mirante na cobertura. Já ponto obrigatório dos visitantes da cidade. No Instituto Moreira Salles, na outra ponta da ave