Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de junho, 2018

Agrotóxico é veneno, não adianta maquiar o nome

Já entrevistei muito agricultor na vida e nunca vi nenhum chamar agrotóxico de defensivo agrícola. Para eles, a coisa chama veneno mesmo. Isso significa que agrotóxico já é o nome bonzinho para um produto desenvolvido para matar – insetos, plantas invasoras e outras “pragas” que podem atacar a plantação. O grande desafio no uso desses venenos é dosar a quantidade para que mate o que atrapalha sem destruir a cultura que se quer proteger. Para os fabricante, se prejudica a saúde do agricultor (ou do consumidor), é um detalhe bem ilustrado pela luta empreendida pelas empresas produtoras desses químicos contra toda legislação que tenta restringi-los. Ao invés de procurar fazer que seus produtos sejam cada vez menos tóxicos, em geral, a indústria prefere investir em propaganda ou no desenvolvimento de espécies resistentes ao veneno, seja pelo processo da seleção natural, seja via transgênicos. Esse é o caso do defensivo Roundup, nome comercial de um herbicida fabricado pela Monsanto c

A pintora e o revolucionário: quando ficção parece realidade que parece ficção

A melhor parte de ler livros que romanceiam acontecimentos históricos é humanizar os personagens e trazê-los para um mundo mais palpável. Por outro lado, podem nos fazer cair na armadilha de tomar ficção por realidade e não termos mais como diferenciar o que realmente aconteceu do que foi inventado. Isso está particularmente na moda quando se trata de autobiografias. O autor se protege mudando nomes, fantasiando alguns fatos, mas todo mundo sabe que trata-se da vida dele, só que não temos como separar as duas coisas. É superlegítimo, instiga, não tira o prazer da leitura, mas confunde. Quando é um romancista partindo de uma fato que conhecemos, mas não muito, e sobre o qual há pouca informação disponível, esse efeito é mais forte ainda. Mesmo sabendo que o que está sendo contado não é exatamente verdade, nossa mente registra a informação como tal e isso mistura com o que sabemos mais ou menos e pronto: temos uma nova versão particular reinventada. Se já passamos pelo vestibular,

Sesc 24 de Maio é oásis de modernidade no Centro

Fui conhecer o Sesc 24 de Maio, inaugurado no ano passado no antigo prédio da Mesbla, no Centro - destino que tem se tornado constante, com mais surpresas positivas do que negativas. Desci na estação Anhangabaú do metrô, que é um pouco mais longe do que a República, mas o caminho é bem bacana, passando pelo Teatro Municipal. Me desafiar a fazer um passeio por semana a lugares diferentes tem me feito (re)descobrir a cidade real, longe da cidadela Zona Oeste onde me refugiei. Andar a pé, de metrô, descobrir caminhos com a escala do pedestre tem sido gratificante. Talvez isso aconteça por ser o que eu disse – passeio. Quando só usava transporte público, meu esgotamento era patológico. Venci meu medo de dirigir e comprei um carro para não desistir de estudar e ter um pouco mais de vontade de trabalhar. De dentro do carro a vida fica mais fácil, mas cria uma dependência da qual estou tentando me libertar. A primeira impressão ao chegar no prédio do Sesc, lindamente reformado a parti

Ecofalante: uma mostra necessária

A 7ª Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental termina hoje, depois de duas semanas, quando exibiu mais de 120 filmes de 31 países, gratuitamente, em vários espaços de São Paulo, além de realizar debates, oficinas e prêmios. Nesta edição, assisti a quatro filmes, com temáticas diferentes e bastante contundentes. Fiquei feliz porque todas as seções a que estive estavam lotadas – porém foram acompanhadas de debates, então não sei dizer se foi uma constante. Mas uma coisa é certa: a mostra vem crescendo muito e deve aumentar ainda mais nos próximos anos, tanto porque o público vem aprendendo a assistir documentários quanto porque a temática socioambiental ambiental vem ganhando adeptos. Acredito que o interesse por documentários venha da maior difusão deste tipo de filme a partir das TVs pagas e streaming, mas também da pouca profundidade e credibilidade tanto da imprensa tradicional quando das redes sociais. Notícias rápidas cansam e não satisfazem, as pessoas buscam nos documentários

Me chame pelo seu nome, porque eu me desejo através de você

Mais do que um amor de verão, o romance entre Elio e Oliver, em “Me chame pelo seu nome”, de André Aciman, é uma paixão daquela fase em que estamos descobrindo a sexualidade e como lidar com ela. Daquelas onde a pessoa amada é idealizada como uma projeção de nós mesmos e da ideia que fazemos do amor. O fato dos personagens passarem a chamar um ao outro pelo seu próprio nome parece ser uma forte representação disso. Essa foi a impressão mais forte que ficou deste livro do mês, na última reunião do CFL-Círculo Feminino de Leitura. Foi mais uma obra da nossa lista de autores que estarão na próxima Flip, em julho, em Paraty, onde vamos comemorar os 10 anos do nosso grupo [há mais três na nossa mira até a viagem]. Mesmo não tendo sido uma unanimidade – parte adorou (foi o meu caso!), parte achou apenas uma história de amorzinho -, todas achamos um mérito do livro o fato da homossexualidade não ser uma questão tão relevante na narrativa. Poderia ser contada com qualquer tipo de casal –

Nostalgia do que não vivi

Visitar a Casa da Imagem, para qualquer paulistano ‘da gema’, é como viajar no túnel do tempo e sentir saudade de uma cidade que não existe mais, ou ainda, acompanhar as diversas cidades que foram se transformando e sobrepondo para desembocar nesta que habitamos hoje. Este museu, localizado próximo à Praça da Sé, ao lado do Pátio do Colégio, faz parte do Museu da Cidade de São Paulo, responsável por 13 edificações históricas que exemplificam a evolução das técnicas construtivas da cidade (várias delas não sabia que existiam), entre as quais estão também o Solar da Marquesa de Santos, separado da Casa da Imagem pelo Beco do Pinto, sobre o qual falarei daqui a pouco. A Casa da Imagem abriga o Acervo Iconográfico de São Paulo, composto por 84 mil fotografias, das quais 140 estão expostas aos visitantes. Elas mostram São Paulo em diversas fases desde a segunda metade do século XIX, quando era uma cidadezinha, antes de se tornar a metrópole do café. Dá para acompanhar o cresciment