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Seminário de apresentação da pesquisa no Tucarena. |
O brasileiro tem noção de que reduzir as desigualdades
entre ricos e pobres é uma necessidade para o progresso do país. Segundo
pesquisa da Oxfam Brasil, realizada pelo Datafolha em fevereiro deste ano e
divulgada na última terça-feira (9/4), essa ideia é corroborada por 72% das
pessoas, com 14% concordando parcialmente e outros 12% discordando total ou
parcialmente. No geral, porém, é uma população iludida e, talvez, se tivesse um
pouco mais de noção da realidade, pensaria mais no assunto e colaboraria mais
(individual e coletivamente) para melhorar essa situação.
Vejamos. A pesquisa mostra que a maior parte dos
brasileiros (53%) acredita que a linha de pobreza está entre R$ 700 e R$ 1.000,
ou seja, próxima ao salário mínimo (outros 15% acham que essa linha está ainda acima
desse valor). Assim, quando ouvem que há 15 milhões de pobres no Brasil, acham
que não é tanta gente assim. Só que não. Esses 15 milhões de pessoas (números
de 2017) são calculados pelo critério-base do Banco Mundial, que traça um
rendimento de US$ 1,90 por pessoa/dia – algo em torno de R$ 210 por pessoa do
domicílio ao mês. Se o critério percebido na pesquisa fosse levado em
consideração, teríamos estatisticamente aproximadamente 83 milhões de pobres,
perto de 40% da população abaixo da linha de pobreza.
É só dar uma passadinha no supermercado, pegar um ônibus
ou tentar arrumar um lugar para morar, para qualquer pessoa entender que a
percepção do que é ser pobre não está errada. Errado está achar que não são
tantos assim, sobretudo quando comparamos com a segunda grande ilusão: quem são
os mais ricos.
Quase metade dos brasileiros (49%) acredita que, para
estar entre os 10% mais ricos do país é preciso ter uma renda maior do que R$
20 mil por mês, quase cinco vezes mais do que a realidade. Ou seja, para estar
no topo da pirâmide, em valores atuais, é preciso uma renda de R$ 4.290.
Levando em consideração que nesses 10% mais ricos estão desde os remediados que
contam com pouco mais de R$ 4 mil até os que ganham milhões de reais mensais,
dá para entender porque, mesmo percebendo que há desigualdade no país, o
brasileiro não tem muita noção de que o buraco é muito mais embaixo.
Otimismo
infantil
Mas o brasileiro é um otimista! Mesmo que 85% se
enxerguem na metade mais pobre da população, 70% acreditam que, dentro de cinco
anos, estarão entre a “classe média” e a “classe média alta”. O bom é que, se
aceitamos que essa expectativa é factível e se realizará, nossos problemas
acabaram. Seremos um país rico.
Porém, no entanto, todavia, 57% dos brasileiros não
acreditam que a diferença entre os mais ricos e os mais pobres vai diminuir no
Brasil nesse período. Ou seja, só eles vão enriquecer... Como? Um pista é a
resposta à pergunta sobre o que é mais importante para melhorar de vida. A fé
religiosa é considerada o fator mais importante, com peso de 28%. Depois disso,
as prioridades são estudar mais (21%), ter acesso a atendimento de saúde (19%),
crescer no trabalho (11%). Enfim, ganhar mais dinheiro só é prioridade para 8%
(entre os mais pobres, esse índice cai para 7%).
A pesquisa traz ainda outros dados interessantes que
ficam para o próximo post.
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