Mais do que um amor de verão, o romance entre Elio e
Oliver, em “Me chame pelo seu nome”, de André Aciman, é uma paixão daquela fase
em que estamos descobrindo a sexualidade e como lidar com ela. Daquelas onde a
pessoa amada é idealizada como uma projeção de nós mesmos e da ideia que
fazemos do amor. O fato dos personagens passarem a chamar um ao outro pelo seu
próprio nome parece ser uma forte representação disso.
Essa foi a impressão mais forte que ficou deste livro do
mês, na última reunião do CFL-Círculo Feminino de Leitura. Foi mais uma obra da
nossa lista de autores que estarão na próxima Flip, em julho, em Paraty, onde
vamos comemorar os 10 anos do nosso grupo [há mais três na nossa mira até a
viagem]. Mesmo não tendo sido uma unanimidade – parte adorou (foi o meu caso!),
parte achou apenas uma história de amorzinho -, todas achamos um mérito do
livro o fato da homossexualidade não ser uma questão tão relevante na narrativa. Poderia
ser contada com qualquer tipo de casal – como deveria ser na vida em geral.
O romance nos fez divagar sobre as paixões de juventude,
aquelas que, por um período, preenchem todo o seu corpo e o seu tempo e, talvez
justamente por não terem prosseguido (ou, em alguns casos, nem se
concretizado), ficaram como lembrança da história perfeita (e nem precisaram acontecer
na Riviera Italiana!).
Nossos amantes do livro são lindos, inteligentes e
desejados, e estão em um ambiente de sensualidade que parece só existir mesmo
no mundo da idealização. É tudo tão perfeito que você lê e pensa: eu queria ser
o Elio, ter 17 anos, viver naquela casa, naquele lugar, ter aqueles pais e
amigos, comer a comida e beber os refrescos da Mafalda, tocar piano divina e despretensiosamente,
viver uma paixão com o Oliver e, se perigar, até transar com a Marzia.
A conversa entre Elio e seu pai, após voltar da viagem a
Roma, é uma das partes mais tocantes, onde o pai deixa claro a importância de
se permitir seguir o coração e o desejo sem medo do que possa acontecer. “No
meu lugar, muitos pais esperariam que a coisa simplesmente sumisse, ou rezariam
para que seus filhos se reerguessem logo. Mas eu não sou um desses pais. No seu
lugar, se houver dor, cuide dela, e se houver uma chama, não apague, não seja
bruto com ela”, aconselha. Quanto sofrimento seria evitado no mundo com
posturas assim!
Impossível não considerar, ainda, a influência do filme
de Luca Guadagnino, ganhador do Oscar de melhor roteiro adaptado em 2018 - um
dos raros casos em que cinema e literatura se completam e são tão bons quanto. Mesmo
tendo me proposto a esperar ler o livro para depois ver o filme, não resisti e
assisti antes de começar. Com isso, já mergulhei na leitura com o cenário e os
personagens formados, embora tenham ganhado vida nova e independente ao longo da
história. Com o sucesso, o diretor anunciou que vai filmar a continuação do
romance. Claro que vou assistir, mas teria terminado o romance onde termina o
filme. Saber o que acontece depois não acrescenta muito e quebra um pouco o
encanto de se imaginar o que poderia ser.
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