Ler Jorge Luis Borges é uma experiência única: você não vai entender
boa parte, se sentirá burra e sem referências em outras. Mas, se persistir, vai
se divertir. Nos contos de Ficções, o autor mistura fatos e pessoas reais com
outros imaginários, alguns totalmente fantásticos, e nos convence de estar
descrevendo casos verídicos, que qualquer um que se pretenda erudito deve se
interessar e ter conhecimentos prévios que o ajudem a entender.
Um exemplo é o pretenso “ensaio” Exame da Obra de Herbert
Quain, que teria sido um escritor que acabara de falecer. Borges analisa toda a
obra do artista, incluindo até equações matemáticas e citações a Flaubert,
Henry James e Schopenhauer. Terminei me sentindo uma ignorante por nunca ter
lido nada de Quain! Encontrei um artigo do José Saramago onde entra na
brincadeira e traz várias evidências de que Herbert Quain existiu.
Em O Fim, Borges encena a morte de Martín Fierro, um gaúcho
argentino, por um negro em uma briga de bar. Confesso que o que mais chamou
minha atenção foi o nome do assassinado, frequentadora que sou do restaurante
paulistano de mesmo nome. O fato me levou a uma pesquisa rápida para saber de
quem se tratava e descobri que Fierro é um herói épico de um poeta argentino
chamado José Hernández, que o escritor reinterpreta em seu conto. Borges pode
tudo.
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