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Michelle Obama, a história de uma mulher incomum

Reunião do CFL, fevereiro de 2019.

Começar o ano do Círculo Feminino de Leitura (CFL) com Minha História, de Michelle Obama, foi uma oportunidade para nos conectarmos ainda mais com o feminino e a necessidade urgente do diálogo, daquele em que feridas podem ser expostas, mas o objetivo é a cura, não torcer pela infecção. A escolha pela autobiografia de uma mulher forte, atualmente uma das mais influentes do mundo, propiciou um sentimento de identificação com seus valores e admiração por sua força e capacidade de não perder a humanidade, mesmo no centro do poder mundial.
Claro que uma autobiografia tem um que de edulcoração, mas Michelle consegue transmitir sinceridades em seus questionamentos sobre seu papel de mulher, de mãe, de profissional, sobre as dificuldades das escolhas e como assumi-las com responsabilidade. O longo e detalhado relato de sua vida desde a infância mostra a construção de sua personalidade e capacidades a partir da família e da realidade em que cresceu, contando com uma mãe dedicada a não deixar que o determinismo de viver em um bairro decadente e em uma comunidade discriminada impedissem o potencial de seus filhos.
Inteligente, bonita e segura de si, Michelle foi atrás e não deixou escapar nenhuma oportunidade. Passou por cima de tudo que poderia desencorajá-la – como a coordenadora da escola que achava que as melhores universidades não eram para ela -, sem perder a noção de foi uma exceção. Por isso, quando chegou lá, optou por lutar pelo empoderamento de mais pessoas. Uma das causas mais interessantes abraçadas por ela é o de mentoria de jovens provenientes de minorias e comunidades carentes – principalmente meninas -, para que desenvolvam suas capacidades.
Michelle teve sorte em encontrar Barak Obama em seu caminho, mas tem luz própria e sua história teria sido igualmente significativa sem ele. Como casal, parece que se completaram e o sucesso de ambos está bastante ligado. Todo o relato sobre a ascensão de sua família para a posição central no maior olimpo mundial é narrado sem disfarçar o deslumbramento que o fato enseja, mas mantendo o foco na realidade, na efemeridade e, sobretudo, buscando as oportunidades que poderia ensejar. Competente, soube eleger suas prioridades como primeira dama dos Estados Unidos dentro do papel que lhe cabia. Não esconde, em nenhum momento, a dificuldade em conciliar essa vida cheia de poder, glamour, mas também restrições, com o papel de mãe, desafio para qualquer mulher, seja qual for sua posição social ou geográfica, no mundo.
Chama a atenção, ainda, a capacidade de indignação, que não se perdeu em desculpas de quem assume o poder e tende a minimizar os problemas. Michelle mostra isso quando se comove com as tragédias que acontecem durante o governo de seu marido, como os massacres gratuitos, que são quase uma rotina naquela sociedade que endeusa armas, ou quando manifesta seu desconforto com a comemoração nas ruas da morte de Osama Bin Laden, mesmo tendo sido uma vitória política para seu marido. Também não disfarça sua decepção (e até certo ponto atordoamento) com a eleição de Donald Trump e com o retrocesso que representou.
Ao final da jornada como primeira dama – já que possivelmente não desistirá de continuar sua busca por grandes causas -, ela diz que é “uma pessoa comum que se viu numa jornada extraordinária”. Infelizmente, pois precisaríamos de infinitas mais como ela, Michelle não é, absolutamente, comum.

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