O maior impacto de se visitar o Memorial da Resistência é
chegar até lá, antes de entrar. Um verdadeiro soco no estômago. Localizado há
uns três quarteirões da Estação da Luz, logo atrás da Sala São Paulo, este
museu está instalado na Estação Pinacoteca, em um prédio tombado construído
para ser estação ferroviária, mais tarde substituída pela Júlio Prestes, e onde
funcionou por 42 anos (entre 1941 e 1983) o famigerado Departamento Estadual de
Ordem Política e Social de São Paulo, o DEOPS/SP. Sua proposta é nos conectar
com um passado de repressão política pouco lisonjeiro e que nos envergonha como
país, mas dar de cara com a marquise do edifício tomada por pessoas vivendo ao
relento ou em barracas precárias, em meio a excrementos e restos de comida dos
quais precisamos desviar, faz do presente algo intolerável.
Se as atrocidades cometidas pelos diversos regimes
autoritários que formaram o Brasil, sobretudo o regime militar pós-64, que usou
aquele espaço para torturar e matar, é algo do qual a maior parte dos atuais
brasileiros pode se eximir (afinal não éramos nascidos ou éramos crianças na
época), a situação degradante que deixamos existir debaixo de nossos narizes
(literalmente) fingindo que não existe, que não é conosco, é nefasta. Pior –
pelo que vem sendo demonstrado nas famigeradas redes sociais –, parte da
sociedade culpa essa multidão de excluídos por suas mazelas, causando uma
sensação de desesperança total: nem a democracia nem a Constituição de 1988
conseguiram dar um sentido de empatia e civilidade ao país. Continuamos, os
privilegiados, agarrados à falsa premissa de que, se fingirmos que não existe –
e que não temos responsabilidade – a concentração de renda, a injustiça social
(e a violência associada à ela), o racismo, a corrupção e outros problemas
nossos do dia a dia vão desaparecer sozinhos ou dependem de regimes truculentos
e autoritários.
Passando por esse corredor da vergonha, entramos em um
prédio muito limpo, muito amplo, com funcionários muito gentis e temos acesso a
uma exposição autoguiada um pouco difícil de acompanhar. Parece coisa feita
para iniciado. O lugar se propõe a mapear a memória da repressão política e dos
que resistiram a ela, mas duvido que um jovem que cresceu sem saber o que é
poder ser preso apenas por expressar uma opinião ou porque leu um determinado
livro entenda, passando por lá, o que isso significa.
Mesmo as celas conservadas, mantendo alguns registro
feitos nas paredes pelos presos que passaram por lá, parecem um cenário pálido,
que dependem de leituras de textos enormes para se saber o que acontecia ali. Senti
falta de mensagens mais contundentes, talvez com imagens da tortura (mesmo que
em cenas de filmes), dos desaparecidos, dos muitos jovens presos, com os quais
os jovens atuais possam se identificar.
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