Vida de árvore paulistana não é fácil. Não bastasse terem de
se submeter às necessidades da fiação, que as condenam a uma vida de mutiladas,
e das calçadas, que deixam suas raízes cimentadas, elas ainda são sempre
consideradas obstáculos – seja aos pedestres nas mesmas calçadas, seja às
inúmeras obras públicas e empreendimentos imobiliários. O importante é que,
seja qual for o motivo, elas sempre levam a pior.
Até quando são “esquecidas”, elas se tornam um objeto
bizarro. Em uma nova avenida que está sendo construída no Morumbi, a
empreiteira contratada pela prefeitura asfaltou a via com 20 árvores no meio
(FSP, 3/10/2012, p. C8)! A justificativa é que a própria prefeitura não
autorizou ainda a retirada das árvores. Mesmo não aberta oficialmente, a
avenida já vem sendo usada por motoqueiros para fugir do trânsito. Se algum
acidente ocorrer, todo mundo já sabe de quem será a culpa: da árvore. É essa
também a percepção quando árvores debilitadas (por fios, falta de espaço para
as raízes e bichadas, por falta de manutenção) caem em cima de carros e
pedestres durante a época das chuvas.
Com todos os problemas, porém, o que seria de nós,
habitantes desse caos, se não houvesse o refresco colorido das árvores nesta
selva cinza? Com certeza, estaríamos ainda mais sufocados de calor e poluição
(do ar e visual). Aliás, até o que nossas árvores têm de mais lindo – estarem
quase sempre floridas – é sinal de problema. Há estudos que mostram que uma
árvore debilitada dá muitas flores porque sabe que não terá vida longa e
precisa se reproduzir rapidamente.
No último Dia da Árvore (21/10), fui ao lançamento da
campanha Veteranas de Guerra (http://www.veteranasdeguerra.org/), da SOS Mata
Atlântica, que encontrou 20 árvores centenárias para homenagear na cidade. Em
que pese o filme da campanha, que parece um videogame de uma violência
exagerada para o meu gosto, a intenção é muito legal. O trabalho de garimpagem
do biólogo Ricardo Cardim foi primoroso, assim como a apresentação, em que
mostrou a relação de muitos bairros paulistanos com suas árvores, como o Bosque
da Saúde e o Cambuci, este último o nome de uma árvore frutífera a qual ele
garantiu que, há dois séculos, estava presente na maior parte dos pomares da
cidade.
E eu que nunca na vida vi (e muito menos experimentei) um cambuci,
mesmo tendo crescido numa São Paulo onde ainda havia quintais com árvores
frutíferas, como mangueiras, goiabeiras e jabuticabeiras... Melhor parar por
aqui, se não vão me enquadrar também na categoria “matusalém” e em extinção...
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