Enquanto a cidade de São Paulo passava por mais um dia de caos por conta das chuvas na última terça-feira (18/2), uma turma muito animada se reunia na Casa das Caldeiras no final de mais um dia de trabalho de avaliação e discussão justamente sobre as mudanças climáticas. Esse pessoal faz parte do Observatório do Clima, uma rede de organizações de todo o Brasil que trabalha para reduzir as emissões de carbono, minimizar seus efeitos deletérios, divulgar a enrascada em que nos metemos ao não levar a ciência a sério e tentar mudar o rumo dos acontecimentos enquanto é tempo.
Quando cheguei lá, no final da tarde, para encontrar alguns desses meus amigos-heróis, ainda não sabíamos que mais uma pessoa (desta vez uma motorista de aplicativo) tinha perdido a vida em uma enchente, nem de todos os estragos na Zona Norte da capital paulista. Aliás, na Zona Oeste, a chuva nem tinha dados as caras ainda.
Com todos os motivos para entrar em desespero, essa turma, como eu disse, é muito animada, e otimista. Acreditam que vamos acordar e agir. Gosto de estar com eles porque conseguem me contagiar. Naquele dia, descobri que alguns deles, entre os quais o Claudio Ângelo, o Gustavo Faleiros e o Ricardo Baitelo, ainda conseguem tempo para tocar em uma banda, e não é uma banda qualquer. É a Eventos Extremos, nome autoexplicativo para não deixar dúvidas sobre a que veio.
Com um repertório, na maior parte de versões satíricas de músicas conhecidas, a banda animava os fãs com letras sugestivas como: “Chora, IPCC/Ninguém te deu razão/Queimamos o carvão/E deu ruim/Chora, IPCC/Não tem planeta B/Ninguém ouviu você/E deu ruim/Ah, chupa essa, IPCC/O lobby fóssil ganhou/Nós vamos ferver/Você bem que avisou”.
No momento que nos acabávamos na pista dançando ao som de: “Ontem choveu em casa/meu carro afundou/tô sem luz/ e a torneira secou/Mas tá tudo ok/sou negacionista, sem rancor/no meu coração, durmo bem”, os celulares começaram a apitar com mensagens da Defesa Civil sobre a tempestade chegando à região. Alguém da organização avisou para que ninguém saísse, porque as ruas ao redor estavam todas inundadas.
Não nos restou nada a fazer, a não ser continuar a festa, com a certeza de tempos de muito sucesso para a Eventos Extremos.
(Legenda: Miriam Prochnow recebe alerta da Defesa Civil/Foto: Maura)
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