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Novo centro cultural no Complexo Matarazzo é passeio completo

  Aos que, como eu, gostam de se aventurar por São Paulo, o centro cultural Casa Bradesco, inaugurado no mês passado no Complexo Matarazzo, na rua Itapeva (perto da avenida Paulista), é mais uma opção imperdível. Faça como eu e minhas amigas: erre a entrada e passe por dentro do hotel Rosewood. Desde que era adolescente e me embasbacava ao descer as escadas rolantes do Maksoud Plaza (infelizmente agora fechado), não entrava em hotel tão bonito em São Paulo. Esqueça a ideia de hospedar-se lá, pois provavelmente não é para seu bico (nós perguntamos quanto era a diária!). Voltando ao centro cultural, foi aberto com uma exposição do artista plástico indo-britânico Anish Kapoor, um dos grandes nomes da arte contemporânea. Suas obras são imensas e impactantes, com muito vermelho vivo, daquelas que nos permitem de alguma maneira interagir com elas, ao nos vermos refletidas em seus relevos. As que mais gostamos, porém, são pintadas com uma tinta especial que absorve quase toda a luz e não re
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80% da água doce da Terra está na Antártica

  De todos os locais que gostaria de conhecer, mas duvido que consiga, a Antártica está no topo da lista. É muito longe, é muito caro, é muito frio. Mas é fascinante. Estou aqui embevecida com o livro Expedições Antárticas, do fotógrafo e biólogo Cesar Rodrigo dos Santos, que teve o privilégio de estar 15 vezes por lá, entre 2002 e 2017, e registrar imagens de tirar o fôlego. O livro ainda tem com o plus dos textos serem da minha amiga Silvia Marcuzzo, que conta as aventuras de Cesar, e nos traz detalhes da infraestrutura e o trabalho desenvolvido pelo Brasil no continente gelado, da geografia e da biodiversidade locais, assim como os desafios do último lugar remoto do planeta. É uma região sobre a qual tudo o que sabemos, normalmente, se resume às suas paisagens de horizontes brancos infinitos e pinguins amontoados. Mas é um território a ser muito estudado, até porque as mudanças climáticas podem modificar rapidamente o que conhecemos até agora: “O continente antártico é repleto d

Será que as árvores são as vilãs?

  Se você mora na cidade de São Paulo, tenho um pedido pra te fazer. Quando estiver na calçada, olha pra cima. Veja quantos postes você enxerga e a quantidade de fios amarrados neles. Dá uma olhada e tente contar as camadas e, mesmo considerando o número de empresas de telefonia e internet disponíveis no seu bairro (já que energia elétrica é monopólio), imagina se faz sentido a quantidade de fios que passa por ali. E, mais do que isso, perceba o volume de fios amarrados de qualquer jeito, enrolados, caídos pelos postes ou meio pendentes entre um poste e outro e dos quais é preciso se desviar ao andar pela rua. Se você não achar que está diante de um serviço muito malfeito, realizado com um descaso inimaginável, olha de novo, pois você não prestou atenção. Li um artigo muito comprido e bastante complexo do @ayubio, um especialista em tecnologia, e o assunto não é simples, mas há vários fatores responsáveis por tudo isso. Segue um resuminho do que entendi: Os cabos elétricos costumam

Literatura feminina é só pra mulher?

  Longe de mim desmerecer os autores, são todos ótimos, mas fiquei decepcionada ao ler hoje que apenas três mulheres estão entre os dez livros mais vendidos na Flip neste ano. Sem estar na programação do evento, a sul-coreana Han Kang entrou na lista, possivelmente, apenas porque foi a vencedora do Nobel de Literatura de 2024. Há mais de uma lista, com nomes diferentes, mas a proporção se mantém. A impressão que tenho é que o tempo passa e as mulheres continuam sendo menos lidas. Dizem que homens normalmente não leem mulheres, o que desequilibra a corrida. Tenho lido bastante literatura, obras de autores de todos os gêneros, e não consigo achar que um é melhor do que o outro. Nos ambientes literários, como em lançamentos, clubes de leitura ou na pós-graduação em escrita criativa que frequento, as mulheres são sempre maioria, mas isso não se reflete no quanto são lidas. Quando aparecem comentários sobre isso, costumo ouvir que há uma literatura feminina, com temas que só interessam às

A Fera na Selva

  John Marcher achava que algo grandioso, mas muito grandioso mesmo, aconteceria com ele a qualquer momento. Uma coisa tão impactante como o aparecimento de uma fera na frente de uma pessoa andando pela selva. Tinha tanta convicção disso que atravessou a vida aguardando esse acontecimento. A força dessa espera deixou tudo o mais tão desimportante, que John Marcher praticamente passou pelo mundo sem nenhuma experiência significativa. Sobretudo, não amou – ou não soube identificar o amor. Dividiu esse segredo (sobre a convicção da chegada do acontecimento) ainda muito jovem com May Bartram, a amiga que o acompanhou durante toda a jornada. John Marcher era um dândi, bem-educado, boa gente, rico; o protagonista da novela A Fera na Selva, do estadunidense naturalizado britânico Henry James. Não precisou lutar pela sobrevivência, mas viajou, teve amigos, mas nada construiu. Vivia narcisisticamente se considerando tão importante que o destino só poderia ter grandes planos para ele. Foi inca

Zaratustra falou, mas não entendi

Li ‘Assim Falou Zaratustra’ inteiro e entendi quase nada, embora tenha adorado a poesia de Nietzsche. Certos trechos são muito lindos, mas incompreensíveis para uma reles mortal como eu. Em seu mundo, mulheres praticamente não existem, a não ser em menções misóginas, do tipo “coisas de mulherzinhas” para se referir a algo que considera fraco, dissimulado ou pouco inteligente. “Que o homem tema a mulher quando ela ama: pois então ela faz qualquer sacrifício, e todas as outras coisas são-lhe sem valor. Que o homem tema a mulher quando ela odeia: pois o homem é apenas mau no fundo da alma, a mulher, porém, é ruim. A quem odeia mais a mulher? – Assim falou o ferro ao ímã: ‘Odeio-te mais que tudo porque atrais, sem seres forte o suficiente para me reter’.” O melô da misoginia. Ele também despreza os homens em geral e procura por um super-homem, ou homem mais elevado, cuja definição é impossível decifrar. Dá a impressão que nem o próprio Zaratustra sabe, pois está sempre irritado com aque

Kindle é bom só para variar

Em uma conversa com minhas amigas, quando cada uma foi instada a dizer qual era sua maior qualidade, pensei em mim como uma pessoa fiel: à família, ao meu marido, aos meus amigos, aos meus princípios. Mas ultimamente andava pulando a cerca e me sentindo bem feliz: ganhei um Kindle faz um tempinho e me recusava a usar por fidelidade aos livros de papel, seu toque, peso, cheiro. Mas a satisfação imediata da vontade de ler um título e bastar dois clicks para tê-lo em mãos e, porque não dizer, também a economia, me fizeram ceder à tentação. Achei sem-gracinha, mais chato de voltar as páginas, não tem orelha, não dá pra usar marcador – e isso é mesmo muito chato -, nem escrever nas margens. Pensava, porém, na quantidade absurda de livros que estou tentando catalogar para dar um jeito em nossa biblioteca e no espaço que não se multiplica como eu gostaria, e nas árvores que serão economizadas, e em como eu quero ser moderna. Já estava me acostumando. Até que ganhei de amigos queridos um vale