Outro dia escutei a conversa de duas senhoras na piscina. Diziam que tinha sido bom “ele” ganhar a eleição, pois agora sua popularidade já estava caindo e nunca mais iria se eleger. “Ele”, logo descobri, era o presidente Lula. Segundo as duas mulheres, os maiores absurdos cometidos por ele eram não ter se pronunciado sobre a Nicaragua e não se manifestar contra o aborto. Depois dessa aula involuntária de política, me afastei e não sei o restante do papo.
Acho que não preciso ser genial, porém, para concluir que essas senhoras nunca votaram e nunca vão votar “nele”. Mas, apesar de não ter dito nada sobre a Nicaragua – não faço a menor ideia do que o presidente deveria ter falado sobre o assunto – nem sobre o aborto, às vezes tenho a impressão de que “ele” governa sempre buscando agradar a essas senhoras, como se fosse um amor inatingível. Ao contrário do ex-presidente que certamente elas votaram e que em nenhum minuto de sua gestão deixou seus apoiadores na mão ou não cumpriu (infelizmente) suas promessas de campanha, Lula parece não se preocupar com seus eleitores fiéis. Em relação ao aborto, por exemplo, mesmo que não se pronuncie, nunca fez nem um movimentozinho sequer para corrigir este atraso no país, que criminaliza mulheres por decidirem o que fazer com seus corpos.
Lula, contudo, quer aumentar sua popularidade e, para tanto, ao invés de focar nas pautas que o levaram ao poder, quer namorar e casar com o centrão. Ah! Precisa do Congresso para governar etc. etc. Mas tudo tem limites. Há questões que deveriam ser pétreas, como a proteção da Amazônia e dos brasileiros contra as mudanças climáticas, causas amplamente defendidas pelo presidente na campanha e no seu show de convidados na posse, ao subir a rampa para seu terceiro mandato.
De que adianta ter Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente e Rodrigo Agostinho no Ibama, se seus posicionamentos técnicos não são levados em consideração? Dá a impressão de que o presidente espera se fazer de bonito na COP30, mas quem ele quer agradar, na prática, são os negacionistas apaixonados por petróleo a qualquer custo. A um custo imenso. Ao custo do futuro do país.
Aqui, derretendo de calor e à espera da próxima tempestade extrema que paralisará a cidade, tenho a sensação desagradável de ser mulher de malandro: ver seu eleito agradando às amantes o tempo todo e, quando precisar de votos, chegar novamente com o papinho de ser a melhor solução diante do resto que está aí, dizendo que, da próxima vez, vai ser diferente. Será que não teria jeitos melhores de aumentar a popularidade?
Foto: José Bezerra.
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