Uma caminhada de seis minutos, com 400 metros e uma boa subida, que não chega a incomodar, me separa da área verde mais próxima de onde moro, privilégio compartilhado por grande parte das pessoas que vivem na Zona Oeste de São Paulo, mas bem mais raro para habitantes de outras regiões. Sei disso porque nem sempre morei aqui. Na Zona Norte, onde fui criada, há apenas as ladeiras e as calçadas ruins em comum; praças e parques são raridade. O Centro, mais antigo, também é bem serviço de praças, mas poucas com as características de local para exercício e convívio com a natureza, parte pelo grande movimento, parte pela urbanização que não privilegia esse uso. O Vale do Anhangabaú é um exemplo sobre o qual tenho até preguiça de comentar.
De volta à cidade – aos poucos – após quase sete meses de
exílio no interior, percebo mais intensamente a importância dessas áreas. Já
não temos horizonte para acompanhar o caminho do sol, da lua, das estrelas - deve
ser por isso que alguns passaram a acreditar que a Terra é plana. Contar com
áreas arborizadas onde possamos dividir espaço pelo menos com pássaros, caminhar
sem torcer o pé, não respirar gás carbônico diretamente dos escapamentos ou se
preocupar em não ser atropelado em cada esquina é uma essencialidade que pode
reduzir a crescente popularidade das farmácias, setor em ascensão galopante por
aqui.
A “minha” é, na verdade, um conjunto de três praças com nomes de homens, Rafael Sapienza, Professor Haroldo Valadão e Dr. Fernando de Oliveira Pimentel, as duas primeiras contínuas desde o fechamento da rua que as separava. Há bosques com pequenas trilhas, mesinhas e bancos para descanso e convívio, equipamentos para exercício e um parquinho bacana para crianças, mantido por um grupo de amigos, como anuncia a plaquinha na entrada. Infelizmente, meus filhos não tiveram a oportunidade de usufruir, pois ele não existia quando eram pequenos. Placas espalhadas por toda a área pedem para os frequentadores recolherem o lixo e o cocô de seus cachorros. Há bastante novas mudas de árvores plantadas. Ou seja, mesmo com um entulhinho largado aqui ou ali, é um local bem cuidado.
Áreas verdes podem, ainda, ser um espaço de convivência e
treino de civilidade que precisamos muito. Neste, os frequentadores são todos
da vizinhança e muitos se conhecem. Cumprimentar uns aos outros é um costume
que permanece, mesmo que haja alguma redução a partir de 2017 (por que será?) e
agora com a presença das indefectíveis máscaras. É um lugar onde qualquer um se
sente bem, mas há muito a evoluir no quesito “eu não sou a pessoa mais
importante do mundo, os demais têm os mesmos direitos que eu”.
Quem tem cachorro, por exemplo, poderia entender que alguns
não gostam ou têm medo. Outro dia, uma feliz cachorra enorme veio correndo
lamber minha mão e paralisei. Sua dona/mãe (não sei o nome politicamente correto)
só a chamou quando eu disse que por favor o fizesse, porque eu estava assustada.
Não houve nenhum pedido de desculpa, só a informação de praxe “ela é mansinha”.
Também alguns dos treinadores físicos que usam o espaço poderiam
ter mais sensibilidade. Monopolizar a área com equipamentos públicos de
ginástica com seus alunos e suas bolsas é um pouco chato. Em outras épocas, até
pediria licença e tentaria conversar, mas os tempos são de prudência e me sinto
acuada. Esses pequenos infortúnios, porém, são irrisórios diante da alegria de
começar o dia com uma boa caminhada cercada da beleza e do frescor da
vegetação. É um direito fundamental que continuarei a defender por aqui.
(Fotos: minha mesmo)
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