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Propaganda eleitoral


Não deveria ser assim... mas é. Assistir à propaganda eleitoral gratuita na TV é quase um programa para o paulistano. Um programa ‘tipo’ comédia; em alguns momentos, comédia de horrores. No último sábado, nos prostramos para ver o desfile de candidatos a vereadores e a diversão da família era enumerar os nomes mais bizarros, os mais feios (por que será que todo mundo fica horroroso nestas propagandas?) e as profissões: quantos ex-jogadores de futebol, ex-cantores, professores, pastores etc. Aliás, estas são praticamente as únicas informações passadas nos poucos segundos de exposição. Como é possível diferenciar alguém em meio a tanta alegoria?

Infelizmente, o quadro se repete quando o foco está com os candidatos a prefeito, como pudemos comprovar na segunda-feira. Os mais divertidos são os nanicos de sempre. A previsibilidade tanto dos ultradireitistas quanto dos ultraesquerdistas é de matar. Lá estão os primeiros a defender os bons costumes e as grandes obras e os segundos a mostrar como o capital faz a população sofrer. Os grandes partidos, munidos de mais espaço e mais dinheiro, contam com grandes produções, onde os vilões são sempre os outros partidos e a mesma história é recontada a cada novo candidato sob um ponto de vista completamente diverso (embora as promessas de melhoria sejam rigorosamente as mesmas).

A se levar a sério esses programas, podemos votar em qualquer um e, em quatro anos, São Paulo será uma filial do paraíso, com transporte, saúde, educação e moradia de dar inveja à Dinamarca.

No meio de tudo isso, é difícil dizer para meu filho de 17 anos e que vai votar pela primeira vez que o voto faz sim diferença, mesmo que pequena (lamentavelmente). Dá também para entender o porquê da maior parte dos amigos dele, todos na mesma faixa etária do voto opcional, não ter tido sequer o interesse de tirar título de eleitor. Claro que tenho meu candidato a vereador e espero que seja eleito. Mas o privilégio de uma escolha embasada no conhecimento direto do candidato, em uma cidade tão grande, onde político é algo distante e que, às vezes, aparece perto da eleição, é para poucos (ser jornalista tem pelo menos essa vantagem).

Poucos candidatos incluem um site para informação em suas propagandas, o que é um instrumento interessante (não acessível a toda a população, principalmente aos mais pobres e aos mais velhos). Na mesma linha, a Plataforma Ambiental da SOS Mata Atlântica (http://www.sosma.org.br/projeto/plataforma-ambiental/) permite que candidatos à prefeitura e a vereança em todo o domínio da Mata Atlântica, do qual São Paulo faz parte, se comprometam com uma agenda que inclui desenvolvimento sustentável, clima, educação, saúde e saneamento básico. Se eleito, cabe ao eleitor cobrar o compromisso, mas é um começo.

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