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Metrô

Sinto-me supercivilizada quando ando de metrô. O que parece muito normal para a classe média (vá lá, média alta) paulistana, que é andar de metrô em Nova York, Londres ou Paris, parece ultraexótico de se fazer em casa. Já usei muito o metrô e realmente acho o melhor meio de transporte urbano possível, mas por aqui ele é muito limitado. Com seus cerca pouco mais de 70 quilômetros de extensão, raramente atende a todo o percurso necessário e as estações dificilmente ficam a uma distância razoável de onde se está ou quer ir.
Felizarda, moro em um bairro que tem estação de metrô, mas para chegar a ela preciso andar cerca de um quilômetro (de ladeira!). Mesmo isso não seria um grande problema se as calçadas não fossem intransitáveis: todo o percurso é em ladeira (entenda bem, não ladeira subindo a rua, mas ladeira das casas para a rua, ou seja, ladeira dupla). Sem contar os buracos e degraus... Enfrentar esse desafio de saltos altos, meus companheiros inseparáveis, principalmente quando estou trabalhando, é tarefa quase sobrehumana, ainda mais tendo um carro na garagem...
Mas quanto todas as circunstâncias favorecem – tempo bom, tempo sobrando, itinerário compatível – recorro a esse meio de transporte e me sinto uma cidadã do mundo, como hoje. Como sempre, me comprometo a investir mais na experiência, colaborando para minhas economias e para uma cidade mais sustentável. Difícil dizer quanto tempo essa disposição toda dura.

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