Sob o céu poluído e esfumaçado de São Paulo, o jornalista Claudio Ângelo lançou ontem (10/9), na livraria Megafauna, o livro O Silêncio da Motosserra – Quando o Brasil decidiu salvar a Amazônia (Companhia das Letras), realizado com a colaboração do engenheiro florestal Tasso Azevedo, coordenador da iniciativa MapBiomas e um dos personagens dessa história da vida real – tão real que afeta a vida de todos nós. Não fosse esse “presente de grego” da fumaça das queimadas vindas dos nossos “quintais” paulistas, mas também da Amazônia, até poderíamos achar que o livro traz notícias reconfortantes.
Em O Silêncio da Motosserra, Ângelo e Azevedo contam como o desmatamento da Amazônia começou a ser uma questão para o Brasil no final dos anos 1980, quando começou a ser monitorado. E, principalmente, como foi domado entre 2005, quando o sistema de monitoramento por satélite em tempo real foi instaurado, até 2012 (governos Lula e início de Dilma), período em que o desmatamento foi reduzido continuamente, até voltar a aumentar e sair do controle no governo Bolsonaro.
A boa notícia, disse Claudio Ângelo, durante papo com público no lançamento, é que, se olharmos além da fumaça, veremos que o desmatamento voltou a cair desde que a nova equipe (parte dela, a começar pela ministra do Meio Ambiente, Maria Silva, a mesma que reduziu as taxas de desmate da primeira vez) tomou posse no terceiro mandato do presidente Lula. Isso significa que conter a devastação da Amazônia não é uma missão impossível e o desmatamento deve estar novamente sob controle brevemente.
O problema - do qual a fumaça é um alerta - é que, com as mudanças climáticas, os desafios são maiores. Claudio e Tasso, mesmo querendo ser otimistas, lembraram que o desmatamento zero sozinho, hoje, não evita o ponto de inflexão, ou seja, aquele em que a floresta não mais se recompõe. Com secas cada vez mais severas e recorrentes, e incêndios criminosos encontrando campo fértil para se espalhar, outras medidas precisam ser rapidamente tomadas para garantir a conservação da floresta. Mesmo que não se saiba ainda exatamente o que precisamos fazer, com certeza, exploração de petróleo, garimpo ilegal, grilagem de terra e queimadas estão entre as coisas que só vão piorar a situação.
Pensar em adaptação do saneamento básico às mudanças climáticas, em uma semana de sol em São Paulo às vésperas do Carnaval, parece uma péssima ideia. Ninguém quer se lembrar de problemas relacionados a chuvas ou falta de chuvas, que, no caso da cidade, remete a inverno. Mas, talvez, justamente por estarmos fora da emergência, seja o melhor momento. Ainda mais porque a maior parte das adaptações necessárias também pode minimizar esse calor em ondas cada vez mais fortes. Em “Adaptação e Saneamento - Por um setor resiliente às mudanças climáticas" , publicação recém-lançada pelo Instituto Água e Saneamento (IAS), da qual participei, mostramos por que a adaptação dessa área é fundamental para garantir o bem viver nas cidades. Sem uma drenagem pensada para a nova realidade, ficaremos sem mobilidade – a parte mais visível da equação -, mas também sem abastecimento de água, sem tratamento adequado de esgotos, sem habitações de qualidade e com sérios problemas de saúde pública. Na pesqu...



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