Estávamos na piscina com nossos gêmeos. Eu sentada na borda e Ricardo dentro d’água, que lhe chegava à cintura. Batíamos papo enquanto as crianças, em fila indiana, pulavam na água sob sua supervisão. Com a desenvoltura que dois anos a mais de idade dão às crianças, minhas meninas saltavam sozinhas e batiam pés e mãos desajeitados até a beira para voltar para a fila. Quando chegava a vez dos dele, Ricardo dava um passo à frente, segurava suas mãozinhas para o pulo e os colocava novamente para fora.
Mas Luiza não via justiça na independência das amigas. Do alto dos seus quase dois anos, quando chegava sua vez, encolhia os braços e repetia: “xozinha”. Sem repercussão para sua indignação, acabava cedendo e dava as mãos para não perder a vez. Estava, porém, visivelmente brava. Até que, em uma das rodadas, sem se voltar pra ela ou interromper nossa conversa, Ricardo não avançou para pegar Luiza. Incrédula, mas confiante, ela respirou e pulou.
Foram frações de segundo entre o salto e o resgate do pai, que, sem alarde, a suspendeu e levou até a borda. Qual pavão, ela se empinou orgulhosa e voltou para o fim na fila. Na próxima rodada, a pequena parou na beirada e esperou. De nossa parte, continuávamos o papo como se nada estivesse acontecendo, enquanto Luiza olhava um tanto sem-graça até não se segurar mais, estender os bracinhos e chamar: “papai”.
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