Pular para o conteúdo principal

Complexo Brasiliana: lindo prédio, ótimo exemplo

Iniciando meu projeto pessoal de conhecer São Paulo, ontem visitei pela primeira vez o Complexo Brasiliana USP, cuja maior atração é a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin. Minha ideia é que viver nesta megalópole é um privilégio desperdiçado pela maior parte da população. Temo à disposição – ao alcance de uma caminhada ou uma curta viagem (apesar do aperto e do trânsito) de metrô, ônibus ou carro – locais, eventos, experiências que a maior parte das pessoas de outros locais nunca terão na vida, mesmo que viagem bastante. Acredito que estou no topo da pirâmide dos paulistanos que curtem e conhecem o que a cidade proporciona, mas, mesmo assim, é impressionante a quantidade de lugares incríveis que desconhecia até a existência. E nem estou falando, ainda, das coisas novas que abrem todos os dias.

A Biblioteca Brasiliana estava na minha lista de locais a visitar desde sua inauguração em 2013, ali bem na frente do prédio da Geografia da USP, na Cidade Universitária, onde passei anos da minha vida como estudante. Minha primeira surpresa foi saber que o prédio imponente pelo qual passei inúmeras vezes é um complexo, que inclui o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), a livraria da Edusp, com uma cafeteria no mezanino, um auditório (István Jancsó, com capacidade para 300 pessoas), além imensos espaços vazios com salas de aula e de exposição.

O prédio é muito bonito e já vale a visita, no entanto, passado o impacto inicial, começamos a perceber, minha filha Adriana – que me acompanhou – e eu, que estávamos diante de muito espaço vazio. Talvez por ser férias, o movimento da livraria e da cafeteria era muito pequeno, o da biblioteca poderia ser bem maior (e deve ser – meu filho que estuda na Ciências Sociais me disse que sempre vai estudar lá). Talvez os imensos espaços destinados às exposições também estejam à espera do período letivo para serem ocupados. Mas a impressão geral é de desperdício (mesmo que esteja tudo muito bem cuidado).

A pior sensação é a parte destinada ao IEB, com andares e andares de prateleiras vazias à espera de um acerto que nem deus sabe quando seguirá para lá (pelo menos foi a informação que tivemos dos recepcionistas do prédio). Pelo que nos disseram na portaria, apenas a administração foi para o novo endereço, porém o acervo – que o folder me diz ser formado por 147 conjuntos documentais formados por artistas e intelectuais brasileiros, distribuídos entre arquivo, biblioteca e coleção de artes visuais – estão ainda na antiga sede. É uma pena.

Criado pelo jornalista, sociólogo e historiador Sérgio Buarque de Holanda, em 1962, como um centro multidisciplinar de pesquisas e documentação sobre a história e a cultura do Brasil, o IEB tem o mesmo espírito da Biblioteca Brasiliana, de disponibilizar acervos pessoais de grande importância para a história e cultura do país, como o de Guita e José Mindlin, que está à nossa vista na biblioteca. Ambos os acervos trazem documentos raros (no caso da biblioteca, fomos informadas que, para acessá-los é preciso agendamento) que merecem estar acessíveis e são exemplo para que outras iniciativas do gênero surjam no Brasil.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Existe vida profissional após a maternidade: só tem mais emoção

  Lembrei-me desta história conversando com uma amiga grávida preocupada com seu futuro profissional. Minha narrativa não chega a ser um alento, mas posso atestar que, apesar de aventuras como esta, é possível ser mãe e profissional! Quando me tornei mãe de gêmeas, já com um filho de três anos, achei que minha vida profissional e toda mais havia se encerrado. Mas eis que, passados três meses, voltei ao trabalho e o mundo continuou a rodar, mesmo que em sistema de adaptação. Assim que as bebês completaram dez meses, me senti pronta para a primeira viagem profissional pós-revolução. A missão era uma expedição ao Vale do Ribeira para identificar necessidades das populações ribeirinhas e quilombolas que ajudassem a direcionar a ação do Instituto Socioambiental (onde eu trabalhava) naquela região. Na equipe, uma antropóloga, um advogado e eu, a jornalista que reportaria as andanças. Em Iguape, onde estava nossa base, um biólogo se juntaria ao time. Deixei meu apartamento em um clima d

A air fryer e a ilusão capitalista

Fui apresentada à air fryer durante a pandemia. Não pessoalmente, pois me encontrava em isolamento em uma chácara, digamos, isolada, mas através das reuniões de Zoom. Era só termos uma pausa hidráulica ou nos aproximarmos da hora do almoço e alguém soltava: “chegou minha air fryer!” Dali pra frente, mesmo que estivéssemos discutindo o destino da Amazônia ou do Cerrado, de florestas, a índios, a gado, a rios, enfim, qualquer coisa mundana trivial, tudo era esquecido. As maravilhas que eram possíveis de fazer rapidamente, sem óleo, sem trabalho, apenas jogando o que quer que fosse naquela que entendi ser uma panela elétrica, tornavam-se o centro das atenções. Os rostos apáticos nas telas ganhavam vivacidade e a troca de dicas e receitas e declarações de amor ao mais importante utensílio doméstico criado desde a invenção do fogão à lenha tomavam toda a atenção. Frango à passarinho ou batata frita, legumes e arroz em minutos, forrar com papel alumínio para facilitar a limpeza, pão de que

Com os incas, aprendi que distopias acontecem

Sempre quis conhecer Machu Picchu pela incrível beleza da cidadela, mas pouco sabia do império inca, além do fato de ter se estendido por grande parte da costa oeste do continente sul-americano e ter desaparecido com a chegada dos espanhóis. Descobrir que o Peru é um país inca – ou pelo menos o estado de Cusco com certeza o é -, foi uma surpresa. Encontrei uma população preocupada em recuperar todos os aspectos de sua cultura usurpada há 500 anos pelos conquistadores europeus e rever cada pedacinho de sua história. Machu Picchu, a joia que os espanhóis não acharam. O que ouvi de guias, motoristas, vendedores, artesão, garçons e todas as pessoas com que tive contato é uma versão ainda impensável no Brasil, país onde seus habitantes originais foram praticamente exterminados e os poucos que resistiram ainda precisam lutar por seu reconhecimento e, no momento, por garantia de vida. Lá, a população majoritariamente de descendência índia tem mais facilidade em se identificar com aque