Parece frescura se preocupar com isso, em uma semana onde pesquisa
da Rede Nossa São Paulo mostra que mais de 90% dos paulistanos se sentem
inseguros na capital paulista. Que a segurança é um problema sério, está claro
também nos altos índices de roubos e assassinatos, muitos deles através da
grande moda no momento que são as abordagens em motos. Por isso mesmo, sonho
com o dia em que o morador de São Paulo comece a se incomodar e pedir
providências em relação à fiação exposta na cidade, agressão estética que acaba
influenciando também na segurança, sobretudo por causar vários blecautes durante
as chuvas.
A grande desculpa para convivermos com esses “gatos”
oficiais e monstruosos são os custos de enterramento da fiação, o que parece
justo em um contexto de tantas necessidades prementes. No entanto, o serviço de
porco realizado pelas concessionárias responsáveis pela fiação (seja de eletricidade,
telefone ou TV a cabo) é gritante: fios emaranhados, sobrepostos, mal fixados,
com pontas escapando até quase o chão – o que também me parece muito perigoso,
não? – além das decorativas instalações que propiciam, com tênis, restos de
pipas e outras coisas criativas penduradas. Na frente da minha casa, eu contei
15 camadas de fios, que competem com as pobres árvores na rua, deformadas para
poderem ter algum lugar ao sol das calçadas.
Sem falar da quantidade de postes. Em alguns locais, chegam
a ter dois ou três, um ao lado do outro (por que será?), alguns tortos
ameaçando cair e todos eles quase escondidos no meio de tanto remendo mau
feito. Não entendo nada de fiação, mas acho muito difícil acreditar que toda
essa feiura não seja muito mais fruto do descaso do que da falta de recursos. Talvez
manter a fiação exposta com algum capricho seja um passo civilizacional
intermediário ao primeiro mundo – o que para alguns parece significar apenas construir um monte de shopping center e
comprar qualquer coisa fabricada na China com grife norte-americana ou
europeia.
O fato de uma preocupação como esta não fazer parte da
agenda na cidade mostra o quanto estamos longe de atingir um nível de
desenvolvimento compatível com a riqueza que achamos que temos, que o digam a
falta ou má qualidade de saneamento, moradia, transporte, saúde e educação.
Particularmente, acho que a segurança vem praticamente de brinde quando se tem
o resto.
Em relação à fiação, uma lei municipal de 2005 (no
14.023), regulamentada em 2006, obriga as concessionárias, empresas estatais e
operadores de serviço a enterrarem 250 quilômetros de fios e cabos por ano. Nem
precisa dizer que é mais uma lei que entra na categoria das que “não pegaram”.
Passar pelo centro velho, pela avenida Paulista e outros poucos pontos onde os
fios não estão à vista mostra o quanto essa leveza na paisagem tem a capacidade
de embelezar uma cidade por si só tão cinza. Veja que, se a lei fosse cumprida,
em um ano teríamos todos os grandes corredores de tráfego (aqueles que aparecem
no índice de congestionamento da cidade) totalmente despoluídos visualmente e
com mais espaço para se caminhar nas calçadas ou, quem sabe, viabilizar novas
ciclovias.
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