São Paulo é uma cidade em formato de cruz (com dois lados
bem mais compridos que os outros dois), que divide seus moradores em grandes
tribos. Com todo esse tamanho, você mora de verdade em um dos grandes bairros
guarda-chuvas, que grosso modo correspondem às subprefeituras. Mas a cidadania
é dada pela região ou zona: você é da Zona Norte, Zona Oeste, Zona Leste ou
Zona Sul, ou resumidamente da ZN, ZO, ZL ou ZS, ou do Centro.
É isso que vai te dar identidade de vizinhança. Nasci no
Centro, mas fui criada na ZN, que nos anos 1970 não diferia muito de uma cidade
do interior bem provinciana. As casas tinham quintal, os portões ficavam
abertos, as crianças brincavam na rua. Isso acontecia também outras partes da
cidade, mas quando vou até lá hoje em dia – praticamente apenas para visitar
meus pais -, é como se voltasse para casa e a qualquer momento fosse encontrar
algum amigo de infância – o que nunca acontece.
A ZO, onde vivo há mais de 20 anos, é como se fosse a
cidade escolhida, eu quis vir para cá, mas me sinto como uma cidadã
naturalizada, como se estivesse sempre querendo me enturmar. Minha vida é toda
aqui – e isso é um privilégio, perto de grande parte da população que precisa
se deslocar de uma região à outra para trabalhar, estudar etc., perdendo horas
de vida no trânsito ou trens.
Vou a ZS próxima (aquela que também está na mesopotâmia,
ou seja, no entre rios Tietê e Pinheiros - para reuniões de trabalho e lazer
com alguma frequência, mas sempre me perco. Em algumas avenidas e bairros modernosos
– já que é lá onde a cidade rica cresce – me sinto estrangeira.
Para a ZL,
aquela que é a mais longínqua para todo o resto da cidade, praticamente não
vou. É aquela região onde o urbanismo tordo de São Paulo elegeu para ser
moradia, preferencialmente moradia popular. Com isso, os acessos são poucos e
sempre lotados, sejam as vias sejam os trens. Trabalhei alguns anos em uma área
entre o centro e a ZL, mas já há uns 25 anos. Outro dia estive na Mooca, no
Teatro Arthur Azevedo, e fiquei surpresa em ver como também esta região vem
crescendo e se modernizando. Ótima notícia.
Esse bairrismo, que pode parecer estereotipado e divisor,
não é necessariamente ruim. Megalópoles do tamanho de São Paulo são uma
novidade para a humanidade e ainda estão em teste. Mesmo que estejamos nos
adaptando rapidamente, a necessidade de identificação com o lugar onde vivemos
ainda é forte e transmite uma certa segurança, a nos mostrar quem somos e
porque somos assim.
(Foto: no Pico do Jaraguá, vendo a cidade de cima)
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