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Mostrando postagens de 2024

Novo centro cultural no Complexo Matarazzo é passeio completo

  Aos que, como eu, gostam de se aventurar por São Paulo, o centro cultural Casa Bradesco, inaugurado no mês passado no Complexo Matarazzo, na rua Itapeva (perto da avenida Paulista), é mais uma opção imperdível. Faça como eu e minhas amigas: erre a entrada e passe por dentro do hotel Rosewood. Desde que era adolescente e me embasbacava ao descer as escadas rolantes do Maksoud Plaza (infelizmente agora fechado), não entrava em hotel tão bonito em São Paulo. Esqueça a ideia de hospedar-se lá, pois provavelmente não é para seu bico (nós perguntamos quanto era a diária!). Voltando ao centro cultural, foi aberto com uma exposição do artista plástico indo-britânico Anish Kapoor, um dos grandes nomes da arte contemporânea. Suas obras são imensas e impactantes, com muito vermelho vivo, daquelas que nos permitem de alguma maneira interagir com elas, ao nos vermos refletidas em seus relevos. As que mais gostamos, porém, são pintadas com uma tinta especial que absorve quase toda a luz e não re

80% da água doce da Terra está na Antártica

  De todos os locais que gostaria de conhecer, mas duvido que consiga, a Antártica está no topo da lista. É muito longe, é muito caro, é muito frio. Mas é fascinante. Estou aqui embevecida com o livro Expedições Antárticas, do fotógrafo e biólogo Cesar Rodrigo dos Santos, que teve o privilégio de estar 15 vezes por lá, entre 2002 e 2017, e registrar imagens de tirar o fôlego. O livro ainda tem com o plus dos textos serem da minha amiga Silvia Marcuzzo, que conta as aventuras de Cesar, e nos traz detalhes da infraestrutura e o trabalho desenvolvido pelo Brasil no continente gelado, da geografia e da biodiversidade locais, assim como os desafios do último lugar remoto do planeta. É uma região sobre a qual tudo o que sabemos, normalmente, se resume às suas paisagens de horizontes brancos infinitos e pinguins amontoados. Mas é um território a ser muito estudado, até porque as mudanças climáticas podem modificar rapidamente o que conhecemos até agora: “O continente antártico é repleto d

Será que as árvores são as vilãs?

  Se você mora na cidade de São Paulo, tenho um pedido pra te fazer. Quando estiver na calçada, olha pra cima. Veja quantos postes você enxerga e a quantidade de fios amarrados neles. Dá uma olhada e tente contar as camadas e, mesmo considerando o número de empresas de telefonia e internet disponíveis no seu bairro (já que energia elétrica é monopólio), imagina se faz sentido a quantidade de fios que passa por ali. E, mais do que isso, perceba o volume de fios amarrados de qualquer jeito, enrolados, caídos pelos postes ou meio pendentes entre um poste e outro e dos quais é preciso se desviar ao andar pela rua. Se você não achar que está diante de um serviço muito malfeito, realizado com um descaso inimaginável, olha de novo, pois você não prestou atenção. Li um artigo muito comprido e bastante complexo do @ayubio, um especialista em tecnologia, e o assunto não é simples, mas há vários fatores responsáveis por tudo isso. Segue um resuminho do que entendi: Os cabos elétricos costumam

Literatura feminina é só pra mulher?

  Longe de mim desmerecer os autores, são todos ótimos, mas fiquei decepcionada ao ler hoje que apenas três mulheres estão entre os dez livros mais vendidos na Flip neste ano. Sem estar na programação do evento, a sul-coreana Han Kang entrou na lista, possivelmente, apenas porque foi a vencedora do Nobel de Literatura de 2024. Há mais de uma lista, com nomes diferentes, mas a proporção se mantém. A impressão que tenho é que o tempo passa e as mulheres continuam sendo menos lidas. Dizem que homens normalmente não leem mulheres, o que desequilibra a corrida. Tenho lido bastante literatura, obras de autores de todos os gêneros, e não consigo achar que um é melhor do que o outro. Nos ambientes literários, como em lançamentos, clubes de leitura ou na pós-graduação em escrita criativa que frequento, as mulheres são sempre maioria, mas isso não se reflete no quanto são lidas. Quando aparecem comentários sobre isso, costumo ouvir que há uma literatura feminina, com temas que só interessam às

A Fera na Selva

  John Marcher achava que algo grandioso, mas muito grandioso mesmo, aconteceria com ele a qualquer momento. Uma coisa tão impactante como o aparecimento de uma fera na frente de uma pessoa andando pela selva. Tinha tanta convicção disso que atravessou a vida aguardando esse acontecimento. A força dessa espera deixou tudo o mais tão desimportante, que John Marcher praticamente passou pelo mundo sem nenhuma experiência significativa. Sobretudo, não amou – ou não soube identificar o amor. Dividiu esse segredo (sobre a convicção da chegada do acontecimento) ainda muito jovem com May Bartram, a amiga que o acompanhou durante toda a jornada. John Marcher era um dândi, bem-educado, boa gente, rico; o protagonista da novela A Fera na Selva, do estadunidense naturalizado britânico Henry James. Não precisou lutar pela sobrevivência, mas viajou, teve amigos, mas nada construiu. Vivia narcisisticamente se considerando tão importante que o destino só poderia ter grandes planos para ele. Foi inca

Zaratustra falou, mas não entendi

Li ‘Assim Falou Zaratustra’ inteiro e entendi quase nada, embora tenha adorado a poesia de Nietzsche. Certos trechos são muito lindos, mas incompreensíveis para uma reles mortal como eu. Em seu mundo, mulheres praticamente não existem, a não ser em menções misóginas, do tipo “coisas de mulherzinhas” para se referir a algo que considera fraco, dissimulado ou pouco inteligente. “Que o homem tema a mulher quando ela ama: pois então ela faz qualquer sacrifício, e todas as outras coisas são-lhe sem valor. Que o homem tema a mulher quando ela odeia: pois o homem é apenas mau no fundo da alma, a mulher, porém, é ruim. A quem odeia mais a mulher? – Assim falou o ferro ao ímã: ‘Odeio-te mais que tudo porque atrais, sem seres forte o suficiente para me reter’.” O melô da misoginia. Ele também despreza os homens em geral e procura por um super-homem, ou homem mais elevado, cuja definição é impossível decifrar. Dá a impressão que nem o próprio Zaratustra sabe, pois está sempre irritado com aque

Kindle é bom só para variar

Em uma conversa com minhas amigas, quando cada uma foi instada a dizer qual era sua maior qualidade, pensei em mim como uma pessoa fiel: à família, ao meu marido, aos meus amigos, aos meus princípios. Mas ultimamente andava pulando a cerca e me sentindo bem feliz: ganhei um Kindle faz um tempinho e me recusava a usar por fidelidade aos livros de papel, seu toque, peso, cheiro. Mas a satisfação imediata da vontade de ler um título e bastar dois clicks para tê-lo em mãos e, porque não dizer, também a economia, me fizeram ceder à tentação. Achei sem-gracinha, mais chato de voltar as páginas, não tem orelha, não dá pra usar marcador – e isso é mesmo muito chato -, nem escrever nas margens. Pensava, porém, na quantidade absurda de livros que estou tentando catalogar para dar um jeito em nossa biblioteca e no espaço que não se multiplica como eu gostaria, e nas árvores que serão economizadas, e em como eu quero ser moderna. Já estava me acostumando. Até que ganhei de amigos queridos um vale

Livro mostra como o Brasil já controlou o desmatamento da Amazônia – e que pode repetir a dose

Sob o céu poluído e esfumaçado de São Paulo, o jornalista Claudio Ângelo lançou ontem (10/9), na livraria Megafauna, o livro O Silêncio da Motosserra – Quando o Brasil decidiu salvar a Amazônia (Companhia das Letras), realizado com a colaboração do engenheiro florestal Tasso Azevedo, coordenador da iniciativa MapBiomas e um dos personagens dessa história da vida real – tão real que afeta a vida de todos nós. Não fosse esse “presente de grego” da fumaça das queimadas vindas dos nossos “quintais” paulistas, mas também da Amazônia, até poderíamos achar que o livro traz notícias reconfortantes. Em O Silêncio da Motosserra, Ângelo e Azevedo contam como o desmatamento da Amazônia começou a ser uma questão para o Brasil no final dos anos 1980, quando começou a ser monitorado. E, principalmente, como foi domado entre 2005, quando o sistema de monitoramento por satélite em tempo real foi instaurado, até 2012 (governos Lula e início de Dilma), período em que o desmatamento foi reduzido cont

Passeio com as amigas

Flanar por São Paulo com as amigas é um dos meus programas prediletos e a cidade sempre apresenta ótimas oportunidades para vermos algo novo, que esteja de passagem ou passou desapercebido. Desta vez, aproveitamos a oportunidade do Aberto3, uma plataforma de exposições itinerantes, realizadas em espaços inusitados, para conhecer duas casas incríveis: a casa-ateliê de Tomie Ohtake e a da arquiteta Chu Ming, que criou o orelhão, marca das cidades brasileiras durante décadas. São dois projetos de casas naquele estilo de concreto conhecido como Brutalismo Paulista, que assustam em um primeiro momento, mas encantam pela luminosidade e beleza, e parecem feitos para destacar obras de arte, como as que faziam parte da exposição. No entanto, em meio a obras da própria Tomie, da Adrian Varejão, do Tunga e muitos outros artistas contemporâneos, eram as próprias casas, com suas excentricidades, o que mais chamava a atenção. Na de Tomie, projetada por seu filho Rui Ohtake, é impossível não se

Ursula K. Le Guin pensa mundos onde o anarquismo e o gênero neutro deram certo

  As mulheres ainda são tão minoritárias na ficção científica, que apenas este fato seria suficiente para se ler Ursula K. Le Guin. Minha razão para recomendá-la, porém, é outra. Li dois livros da autora, Os Despossuídos e A Mão Esquerda da Escuridão, e me chamou a atenção nenhum deles trazer um futuro terrível ou ameaçador para a humanidade, espalhada em diferentes planetas universo afora. Em uma época na qual olho pela janela e o céu esfumaçado me faz sentir estar em Blade Runner (Ridley Scott, 1982) e ver o noticiário me transporta para o pavor de Inteligência Artificial (Steven Spielberg, 2001) ou O Exterminador do Futuro (James Cameron, 1991), é bom ler, para variar, algo do gênero que não seja distopia dizendo pra mim “Hasta la vista, baby!”. Nesses dois livros de Le Guin, escritos há mais de 50 anos, os personagens vivem em condições climáticas extremas, mas são adaptados e mantêm uma relação de respeito pela natureza que, mesmo hostil, os permite sobreviver. Em Os Despossuí

Livrai-nos do Mal

  Houve uma movimentação no grupo de WhatsApp do prédio da Neise na última quinta-feira para saber por que o apartamento dela estava interditado. Caso chegassem mais perto da porta, os vizinhos veriam que, no meio das fitas de isolamento de área, havia uma plaquinha indicando Hotel Towneley Arms. Se tivessem aberto a porta, teriam se deparado com uma cabeça de homem sobre a mesa, cercada por sete mulheres – ali representadas por bonecas – suspeitas do assassinato. A arma do crime, um machado ensanguentado, estava ao lado da parte do corpo exposta. Na parede da sala, um esquema daqueles de filmes policiais trazia Jamie Spellman no centro, com as informações sobre a vítima e as possíveis assassinas ao redor. Essa mistura de cena de crime com delegacia de polícia foi planejada pela Neise para nossa reunião do Círculo Feminino de Leitura – CFL sobre o livro Livrai-nos do Mal, da inglesa Rose Wilding. Pela primeira vez em nosso grupo, à exceção de nossa anfitriã/inspetora de polícia, ning

O lindo Jardim Botânico de São Paulo

  Um dos parques mais antigos de São Paulo, o Jardim Botânico é também um dos mais bonitos. Fundado em 1928, a partir da implantação de um projeto de botânica para a cidade, pelo naturalista Frederico Carlos Hoehne, o local tem um paisagismo maravilho, trilhas bem-sinalizadas e um orquidário daqueles de gastar o dedo tirando fotos. Abriga, ainda, o Instituto de Botânica e o Museu Botânico de São Paulo, onde se encontram amostras de plantas da flora brasileira e informações sobre diversos ecossistemas do Estado de São Paulo. Fica dentro do Parque Estadual Fontes do Ipiranga, que engloba também o Zoológico de São Paulo, e é o maior fragmento de Mata Atlântica em área urbana da Região Metropolitana de São Paulo. Estive lá algumas vezes para entrevistas no Instituto de Botânica, mas fazia bastante tempo que não visitava, principalmente porque a Água Funda, na Zona Sul, fica um pouco longe de onde moro. Talvez seja por isso que não soubesse que o Jardim Botânico (junto com o Zoológico e o Z

Calorão no inverno parece bom, mas não é

Lembro de acordar e sentir cheiro de orvalho, encontrar o chão do quintal e as calçadas molhadas de manhãzinha. Era assim todos os dias em São Paulo. E lembro de como odiava os dias garoentos do outono e o frio no meu aniversário, no final de julho. E de reclamar durante agosto inteiro de me levantar cedo para ir para a escola. Detestava ter que me agasalhar demais, às vezes com toca e luvas, e ainda me sentir gelada. Mas tudo isso foi há muito tempo, quando eu era criança. Já na faculdade de Geografia, aprendi com a professora Magda Lombardo o que eram as ilhas de calor e como a urbanização levou embora o orvalho e a garoa da cidade, aumentando sua temperatura. Nada que se compare, porém, com este inverno atípico que assistimos agora, sem saber se ele é apenas excepcional ou o novo normal. A questão é que, para a maior parte das pessoas, que gostam de sol e calor, este tem sido um inverno bom, e estou entre elas. É delicioso não precisar usar casacões, poder dormir, no máximo, com

Parque Buenos Aires, em Higienópolis: cada bairro deveria ter o seu

  Trabalhei por ano em Higienópolis, frequento o bairro, mas nunca tinha entrado no Parque Buenos Aires. Aliás, ainda pensava nele como uma praça. Para quem só conhecia o local de passar por fora, é menorzinho do que imaginava e mais bonito. Fiquei encantada com as esculturas - uma delas, Emigrantes, do Lasar Segall, já vale a visita. Durante a semana, é um paraíso das babás do bairro, passeando com carrinhos de bebês ou com crianças pequenas no parquinho. E tem espaço para cachorros. Para quem gosta de caminhadas, é um pouco pequeno, está mais para um convite para descanso e contemplação. Daquelas áreas verdes que cada paulistano deveria ter perto de casa para ir a pé, mas permanece como privilégio de bairros ricos.

Notícias sobre mudança do clima continuam péssimas

  Fazia bastante tempo desde que estive em um evento sobre mudanças climáticas. Como imaginava, as notícias continuam as mesmas – só que piores. O fato de o ano passado ter sido o mais quente da história dos humanos no planeta – e 2024 se candidatar para bater o recorde – elimina possibilidades de otimismo. As enchentes no Sul, o fogo no Pantanal, as secas na Amazônia e no Nordeste são a cereja do bolo. Como disse Márcio Astrini, do Observatório do Clima, na mesa sobre o tema, no Seminário USP Pensa Brasil, nesta semana, as pesquisas indicarem que 95% da população brasileira saber o que são mudanças climáticas e boa parte se importar com elas não significa, na prática, ser uma prioridade para a sociedade. Principalmente, porque os brasileiros, principalmente os pobres, têm coisas mais urgentes para se preocupar, como ter uma casa, um emprego e saúde e escola para seus filhos. Entender que já ultrapassamos o aumento de 1,5º C na temperatura média do planeta e que a situação deve pio

O sobrenome e o patriarcado

Um dos maiores símbolos do patriarcado, que me deixa muito irritada, é a transmissão do sobrenome. Considero um desaforo para as mulheres. Mesmo homens, e são muitos, que simplesmente desaparecem da vida de seus filhos, deixando a mãe se virar sozinha, transmitem seus nomes como herança, caso eles constem na certidão de nascimento. Colocar em uma criança também o sobrenome da mãe – como fizemos eu e meu marido com nossos filhos – é uma atitude bacaninha, mas ele vai sumir na próxima geração. Aliás, na prática, pouquíssimas pessoas usam o nome materno, o costume é sermos conhecidos apenas pelo último nome. Meus pais nem se deram a esse trabalho, só tenho o sobrenome do meu pai. No meu caso, nem nome duplo deram, como no caso dos meus irmãos, por considerarem que, ao me casar, ficaria com um nome muito grande. Euzinha, porém, tenho uma sugestão para resolver essa injustiça: meninas seguiriam a linhagem materna e meninos a paterna. Sei que é uma proposta controversa e adianto que não tenh

Clubes de leitura: revoluções individuais a partir dos livros

Quem me conhece sabe da importância que participar de um clube de leitura tem na minha vida. Especial para mim e para as demais membras, o Círculo Feminino de Leitura-CFL, ao invés de se tornar rotina, foi ganhando maior espaço em nossas vidas ao longo do tempo e transfomou nossa maneira de ver o mundo. Por isso, ao receber da Nivia, uma de minhas companheiras de CFL, uma foto do livro Clubes de Leitura – Uma aposta nas pequenas revoluções (Solisluna Editora), de Janine Durand e Luciana Gerbovic, fiquei com coceira nos olhos e fui correndo comprar. As autoras escrevem a partir de suas experiências de mediadoras de clubes de leitura e abordam o potencial da literatura como caminho para libertação pessoal. Advocam que a literatura é um Direito Humano, mas pouco respeitado no Brasil. As duas são articuladoras do Programa Remição em Rede, que fomenta clubes de leitura em unidades prisionais para remição da pena por meio da leitura. Trazem depoimentos tocantes de pessoas transformadas pelo

O estado islâmico e o Congresso Nacional

  Tenho baixa resistência à crueldade. Quando se trata de mulheres e crianças, é quase fobia. Por isso essa discussão sobre o hediondo projeto de supercriminalização do abordo me deixou paralisada, assim como foi difícil engrenar na leitura de A Tatuagem de Pássaro , romance da iraquiana Dunya Mikhail. O livro é uma espécie de O Conto da Aia (de Margaret Atwood), mas real e atual. Começa com a invasão de partes do Iraque e da Síria pelo Estado Islâmico, em 2014, e a escravização das mulheres não muçulmanas - não que a vida destas últimas tenha ficado boa. Acompanhamos a história a partir de Helin, da minoria de origem curda iazidi, cuja religião traz elementos do islamismo, do cristianismo e do zoroastrismo, sequestrada em Mossul pelo Daich (nome pelo qual o estado islâmico ficou conhecido no mundo árabe), mas chamado de “quadrilha” no livro. Helin e as demais mulheres, aí incluídas as meninas a partir de 9 anos, se tornaram mercadoria vendida pela internet, que pode ser trocada ou

O ponto máximo da evolução

  Só sei dizer sobre nós mesmos, não tenho informação sobre outros povos, mas o brasileiro é muito autorreferente. Adoramos saber a opinião de estrangeiros, principalmente os ilustres, sobre nós. Ficamos indignados quando vemos alguém trocar nossa capital ou confundir nossos ritmos musicais. Quer ver meu marido furioso, é um artista ou político de outro país falar mal do Brasil em alguma entrevista. Parece que a pessoa falou sobre e para ele.  Da minha parte, não tenho inclinações patrióticas. Nos vejo como muito ignorantes sobre outros povos e países e, assim, por que esperar que os demais saibam sobre nós? Mas é curioso nos ver refletidos na visão alheia, mesmo na ficção. Lendo o romance Plataforma , do francês Michel Houellebecq, me deparei com uma descrição da minha cidade, São Paulo, bastante peculiar. O livro é uma grande crítica ao capitalismo global e sobra pra todo mundo. Ao longo o texto, Michel Renault, um funcionário público francês de meia-idade, cínico e frustrado, at

Tremores e temores

Tremores e temores Ao fazer um discurso em homenagem a seu pai na universidade onde ele lecionou, dois anos após sua morte, a escritora estadunidense Siri Hustvedt teve uma tremedeira por todo o corpo, do pescoço para baixo. Ficou desconsertada e preocupada. O que seria aquilo? Acostumada a dar palestras e entrevistas, não encontrava motivos para o acontecido. Vítima de fortes enxaquecas desde a juventude, após sofrer mais um episódio de tremores ao falar em público, passou a pesquisar as causas. O resultado é o livro A Mulher Trêmula ou Uma História dos Meus Nervos , no qual retrata sua jornada em busca do que acontecia com seu corpo e se embrenha no mundo da psicanálise e da neurologia em busca de respostas. Hustvedt  - agora viúva do recém-falecido escritor Paul Auster - não era uma neófita sobre doenças psíquicas e mentais. Há anos participava de grupos de estudo sobre o tema e dava aulas de escrita criativa para pacientes de um hospital psiquiátrico. Misto de biografia e ens