Houve uma movimentação no grupo
de WhatsApp do prédio da Neise na última quinta-feira para saber por que o
apartamento dela estava interditado. Caso chegassem mais perto da porta, os
vizinhos veriam que, no meio das fitas de isolamento de área, havia uma plaquinha
indicando Hotel Towneley Arms. Se tivessem aberto a porta, teriam se deparado
com uma cabeça de homem sobre a mesa, cercada por sete mulheres – ali representadas
por bonecas – suspeitas do assassinato. A arma do crime, um machado
ensanguentado, estava ao lado da parte do corpo exposta. Na parede da sala, um
esquema daqueles de filmes policiais trazia Jamie Spellman no centro, com as
informações sobre a vítima e as possíveis assassinas ao redor.
Essa mistura de cena de crime
com delegacia de polícia foi planejada pela Neise para nossa reunião do Círculo
Feminino de Leitura – CFL sobre o livro Livrai-nos do Mal, da inglesa Rose
Wilding. Pela primeira vez em nosso grupo, à exceção de nossa anfitriã/inspetora
de polícia, ninguém tinha lido os capítulos finais do livro.
Neste romance policial, sete
mulheres que tiveram suas vidas destruídas pelo bonitão sem escrúpulos Jamie se
reúnem para decidir o que fazer com ele, pensando em como reunir provas para
denunciá-lo à polícia. De repente, porém, se deparam com sua cabeça decepada no
esconderijo do hotel em que se encontravam e passam a ser investigadas pela
inspetora Nova como suspeitas do crime. Assim como a polícial, vamos descobrindo
o que Jamie fez a cada uma e é impossível não nos solidarizarmos com elas. As maldades
do sujeito vão de abandono, traição e roubo de projeto até estupro e
assassinato.
A Neise pediu para não lermos
o final e cada um escolher uma das personagens para contar como achávamos que
ela cometeu o assassinato. Descontamos nossa raiva de todos os homens
abusadores em nossas descrições detalhadas de como a cabeça e o corpo de Jamie
foram separados. Nossos assassinatos imaginários foram hilários e com requintes
de crueldade. Várias de nós (inclusive eu!) acertamos a autora do crime.
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