Fazia bastante tempo
desde que estive em um evento sobre mudanças climáticas. Como imaginava, as
notícias continuam as mesmas – só que piores. O fato de o ano passado ter sido
o mais quente da história dos humanos no planeta – e 2024 se candidatar para
bater o recorde – elimina possibilidades de otimismo. As enchentes no Sul, o fogo
no Pantanal, as secas na Amazônia e no Nordeste são a cereja do bolo.
Como disse Márcio Astrini,
do Observatório do Clima, na mesa sobre o tema, no Seminário USP Pensa Brasil,
nesta semana, as pesquisas indicarem que 95% da população brasileira saber o
que são mudanças climáticas e boa parte se importar com elas não significa, na
prática, ser uma prioridade para a sociedade. Principalmente, porque os
brasileiros, principalmente os pobres, têm coisas mais urgentes para se
preocupar, como ter uma casa, um emprego e saúde e escola para seus filhos.
Entender que já
ultrapassamos o aumento de 1,5º C na temperatura média do planeta e que a
situação deve piorar muito quando chegar a algo como 3,7º C e 4,3º C, como
informou Paulo Artaxo, um dos nossos maiores especialistas na área, é obrigação
de quem faz política pública, ou seja, dos políticos. Isso é grave, no nosso
caso, pois o Congresso Nacional tem se esforçado muito para piorar a situação.
Ver os dois especialistas
e também o Eduardo Costa Taveira, secretário estadual de Meio Ambiente do
Amazonas, repetindo as mesmas verdades indigestas (mais uma vez, citando
Artaxo), me fez lembrar porque tenho procurado outros assuntos para me ocupar.
A mensagem é: se tudo der certo (os países ricos abrirem o bolso, a transição energética
acontecer e papai Noel chegar no Natal, mesmo esbaforido de calor) a desgraça
pode diminuir um pouco em relação a se tudo der errado, como está acontecendo neste
exato momento.
Talvez eu esteja
exagerando no desalento dos três barbados da mesa, instigados pela incansável
jornalista Giovana Girardi, mas foi como me senti, mesmo entendendo e não
duvidando deles. Até que apareceu a Tainá de Paula, a única da mesa que eu não
conhecia. Vereadora (PT/RJ) e ex-secretária de Meio Ambiente da cidade do Rio
de Janeiro, chegou atrasada e de sorrisão na cara. Uma mulher negra, arquiteta
e vinda da favela.
Começou a falar de coisas
que estão sendo feitas, de outras que precisam acontecer, como os demais, mas
de um ponto de vista de ações práticas, a partir das cidades. Disse que muito
calor no Rio hoje é calorão Taylor Swift, por conta daquele fatídico show que
matou uma menina (ela era secretária de Meio Ambiente na época), contou que
está sendo processada pelos fabricantes de miojo, porque diz que os jovens hoje
só podem comer essa porcaria (concordo com ela). Não trouxe nada de
extraordinário, a não ser a postura, um ar de vamos em frente, que a gente
chega lá. É muito.
Fotos: Norberto de Assis.
Comentários
Postar um comentário