Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de junho, 2024

O estado islâmico e o Congresso Nacional

  Tenho baixa resistência à crueldade. Quando se trata de mulheres e crianças, é quase fobia. Por isso essa discussão sobre o hediondo projeto de supercriminalização do abordo me deixou paralisada, assim como foi difícil engrenar na leitura de A Tatuagem de Pássaro , romance da iraquiana Dunya Mikhail. O livro é uma espécie de O Conto da Aia (de Margaret Atwood), mas real e atual. Começa com a invasão de partes do Iraque e da Síria pelo Estado Islâmico, em 2014, e a escravização das mulheres não muçulmanas - não que a vida destas últimas tenha ficado boa. Acompanhamos a história a partir de Helin, da minoria de origem curda iazidi, cuja religião traz elementos do islamismo, do cristianismo e do zoroastrismo, sequestrada em Mossul pelo Daich (nome pelo qual o estado islâmico ficou conhecido no mundo árabe), mas chamado de “quadrilha” no livro. Helin e as demais mulheres, aí incluídas as meninas a partir de 9 anos, se tornaram mercadoria vendida pela internet, que pode ser trocada ou

O ponto máximo da evolução

  Só sei dizer sobre nós mesmos, não tenho informação sobre outros povos, mas o brasileiro é muito autorreferente. Adoramos saber a opinião de estrangeiros, principalmente os ilustres, sobre nós. Ficamos indignados quando vemos alguém trocar nossa capital ou confundir nossos ritmos musicais. Quer ver meu marido furioso, é um artista ou político de outro país falar mal do Brasil em alguma entrevista. Parece que a pessoa falou sobre e para ele.  Da minha parte, não tenho inclinações patrióticas. Nos vejo como muito ignorantes sobre outros povos e países e, assim, por que esperar que os demais saibam sobre nós? Mas é curioso nos ver refletidos na visão alheia, mesmo na ficção. Lendo o romance Plataforma , do francês Michel Houellebecq, me deparei com uma descrição da minha cidade, São Paulo, bastante peculiar. O livro é uma grande crítica ao capitalismo global e sobra pra todo mundo. Ao longo o texto, Michel Renault, um funcionário público francês de meia-idade, cínico e frustrado, at

Tremores e temores

Tremores e temores Ao fazer um discurso em homenagem a seu pai na universidade onde ele lecionou, dois anos após sua morte, a escritora estadunidense Siri Hustvedt teve uma tremedeira por todo o corpo, do pescoço para baixo. Ficou desconsertada e preocupada. O que seria aquilo? Acostumada a dar palestras e entrevistas, não encontrava motivos para o acontecido. Vítima de fortes enxaquecas desde a juventude, após sofrer mais um episódio de tremores ao falar em público, passou a pesquisar as causas. O resultado é o livro A Mulher Trêmula ou Uma História dos Meus Nervos , no qual retrata sua jornada em busca do que acontecia com seu corpo e se embrenha no mundo da psicanálise e da neurologia em busca de respostas. Hustvedt  - agora viúva do recém-falecido escritor Paul Auster - não era uma neófita sobre doenças psíquicas e mentais. Há anos participava de grupos de estudo sobre o tema e dava aulas de escrita criativa para pacientes de um hospital psiquiátrico. Misto de biografia e ens