Tenho baixa resistência à crueldade. Quando se trata de mulheres e crianças, é quase fobia. Por isso essa discussão sobre o hediondo projeto de supercriminalização do abordo me deixou paralisada, assim como foi difícil engrenar na leitura de A Tatuagem de Pássaro , romance da iraquiana Dunya Mikhail. O livro é uma espécie de O Conto da Aia (de Margaret Atwood), mas real e atual. Começa com a invasão de partes do Iraque e da Síria pelo Estado Islâmico, em 2014, e a escravização das mulheres não muçulmanas - não que a vida destas últimas tenha ficado boa. Acompanhamos a história a partir de Helin, da minoria de origem curda iazidi, cuja religião traz elementos do islamismo, do cristianismo e do zoroastrismo, sequestrada em Mossul pelo Daich (nome pelo qual o estado islâmico ficou conhecido no mundo árabe), mas chamado de “quadrilha” no livro. Helin e as demais mulheres, aí incluídas as meninas a partir de 9 anos, se tornaram mercadoria vendida pela internet, que pode ser trocada ou