O alerta veio do meu marido, André, outro dia quando
olhava pela janela do quarto: “Você viu o novo prédio que estão construindo? A
USP vai sumir da nossa visão...” Mesmo tendo precedentes, a notícia me
entristeceu. É a última réstia de horizonte do alto do meu décimo quarto andar
na Vila Madalena. Em uma cidade onde a especulação imobiliária expulsa
moradores e incrementa o trânsito sem dó nem piedade, falar sobre direito à
paisagem parece conto da carochinha. Já sei que a única coisa a fazer é me
conformar.
No apartamento que morei antes deste, na Água Fria
(bairro da Zona Norte na parte alta de Santana), em cinco anos vi uma
panorâmica de 180º - que ia da Zona Leste ao Pico do Jaraguá - desaparecer
atrás de três edifícios. Primeiro sumiu o Anhembi e o Centro, junto com nossa
privacidade, a partir dali sujeita à sacada do prédio em frente. Logo depois,
foi a vez da Zona Leste e sua imensa planície sumirem do mapa. O pico da Jaraguá
desapareceu duas semanas antes de nos mudarmos (em um prédio que ainda prometia
subir muito além dos 11 andares onde eu morava).
Neste fim de semana, li no jornal matéria sobre o mesmo
problema em relação ao vão livre do Masp (FSP, 21/10/2012). Segundo a
reportagem, a manutenção da vista para a Serra da Cantareira foi uma exigência
do doador do terreno, engenheiro Joaquim Eugênio de Lima, à prefeitura. Já
muito comprometido, porém, o mirante a partir do vão livre do museu deve dar adeus ao
horizonte da Serra com a construção de mais um edifício que sobe no que ainda
havia sobrado de paisagem.
Possivelmente, se vivesse hoje, o engenheiro que
idealizou a avenida Paulista no século XIX e dá nome a uma de suas transversais
teria se rendido à realidade e também estaria
projetando prédios cada vez mais altos, que dão o tom do skyline
sufocante que caracteriza a cidade.
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